Lula da Silva ficou enfurnado dois dias e duas noites, como se diz no Brasil real, na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC paulista. Estava cercado dos mais chegados e dos militantes – muitos com sangue nos olhos, como eles dizem que a turma do outro lado tem, dos aloprados aos representantes do Ministério Público e Justiça Federal, sem contar com a imprensa e o escambau. Daqui a pouco vai à missa e, pelo que foi informado, será preso e transferido para uma sala/cela da superintendência da Polícia Federal em São Paulo. Aguardará que seu time de advogados consiga tirá-lo dali achando um caminho pelos meandros da Justiça. Se não der certo, vão apelar para o Papa Francisco. De qualquer forma, as 48 horas que passou naquela sede suntuosa em São Bernardo do Campo, no sufoco da contagem regressiva das horas até o prazo em que deveria se entregar, foi um treinamento para o confinamento. Conseguiu que as atenções de todo o país se concentrassem em sua figura, pra variar, além do destaque na imprensa internacional. Como líder nato que é, provocou essa comédia triste em seu benefício. Mártir autoproclamado e incensado pelos seguidores, já é. Ainda há uma chance, remota, de ele ser candidato a presidente. Se conseguir, se elege, apesar do ódio irracional da turma do outro lado, a que não consegue enxergar que o Brasil vai além do próprio umbigo. Se isso for cortado e o ex-presidente eleger o escolhido dentro do PT, como fez com Dilma Rousseff, será carregado em andor quando sair detrás das grades.