19:48ZÉ DA SILVA

No dia da ressurreição, fiquei morto. Lanças e pregos partiram de dentro como se milhares de centuriões quisessem apagar a luz do sol lançando os ferros pontiagudos – e principalmente para atingir e fazer a ferida reabrir e contaminar tudo. Um laço me puxou pela garganta, suspendeu e a voz perguntou o que é que eu estava pensando da vida, já que tinha conhecido o inferno e saído dali e do purgatório. Mesmo sabendo que aquilo não se apaga, até para evitar voltar, levei um tapa tão forte no rosto, que o barulho foi ouvido pelas multidões que acompanhavam as decisões dos campeonatos de futebol no mundo inteiro. Não tive vergonha, mas o que fazer com o líquido purulento a percorrer a corrente sanguínea e estagnar naquela parte do corpo onde a gente pensa que ali se pensa? Pregado, não, soterrado, mas respirando, inerte me arrastei pelas horas ouvindo sorrisos ao longe. Então fui ao encontro dos desterrados. Foi a salvação! Porque sempre pensamos que a gangrena que ataca a alma é algo exclusivo e só se esconde dentro da gente. Então, conversamos. E alguma coisa, aconteceu… Dormi para morrer um pouco no outro dia descobri que sou o mesmo de sempre.

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