Por Ivan Schmidt
Mesmo sem uma justificativa aceitável para a dilação de prazo, afinal ele é o dono da bola, o governador Beto Richa anunciou o que todos já sabiam (a expressão é de Aroldo Murá), ao comunicar que deixa o governo estadual no próximo dia 6, passando o cetro no dia seguinte a Maria Aparecida Borghetti Barros (o toque heráldico foi sugerido por Rogério Distéfano), que assim exercerá de fato e de direito a chefia do Executivo, além de lançar-se à campanha propriamente dita (em que já está faz tempo embora o TRE faça de conta que não percebe), pela conquista do governo por mais quatro anos.
Pelo andar da carruagem infere-se que Cida deverá ter a seu favor o maior apoio partidário para a campanha, situação em tudo decorrente da liderança do governador Beto Richa, apesar de seu aparente desprezo pela política e da realidade que se proclamou à saciedade: o filho de José é o principal eleitor do contexto atualmente vivido no Paraná. Queiram ou não os céticos.
Uma das evidências está no recente apoio recebido pela ainda vice-governadora da bancada estadual do PSB, partido que vai aonde o governador ordenar, que já havia oferecido a legenda na qual se refugiaram vários deputados eleitos pelo PMDB, diante da total impossibilidade de conviver com os maus bofes do senador Roberto Requião, dono putativo do partido no Paraná.
A foto exibia os deputados ditos socialistas, com largos sorrisos ao lado de Cida, bem aprumados pela importância do novo papel de apreciável componente da engrenagem político-partidária construída em torno da candidata, que terá também a adesão do DEM e, quem sabe, do próprio PSDB.
Por enquanto a esfinge que também atende pelo nome de Beto Richa não mudou em nada o perfil idiossincrático e se manteve fechado em copas sobre o candidato que contará com seu privilegiado e poderoso voto nas eleições de outubro. Esperamos todos que não seja um poste.
A julgar pelo tamanho do bivaque em fase avançada de organização, empreendimento a que se lançou com toda a relevância de sua persona política, deputado federal e ex-ministro Ricardo Barros, com a missão de aplainar o caminho que levará sua mulher a ser a primeira a chegar efetivamente ao governo paranaense, muitos observadores passaram a afirmar não haver o menor espanto na eleição de Cida.
O deputado Ratinho Jr, um dos candidatos, que fez grande parte do percurso dos últimos anos como auxiliar direto do governador Beto Richa, pensando obviamente que tal proximidade e aconchego serviria de handicap no momento em que as tratativas em torno da eleição chegassem ao ponto de definição, percebeu tardiamente que a areia debaixo de seus pés era por demais inconsistente, a ponto de ver-se agora abandonado à própria sorte.
Dia desses, Ratinho pai assegurou que Junior não pensa em renunciar a candidatura ao governo, marcado pela disposição de encarar todos os percalços. Contudo, no caso de derrota abandonará a política para cuidar das empresas da família. “Já tenho muito e não preciso de político”, teria afirmado o apresentador de TV e dono de verdadeira pirâmide de interesses econômicos bem-sucedidos.
Sem dúvida, a conclusão até certo ponto arrogante do pai do candidato mostra o que ele pensa da política e seus agentes. Afinal ele próprio, no auge da carreira de repórter de rádio e televisão se elegeu vereador e deputado para logo perceber que não era esse o seu negócio, no que estava coberto de razão.
Ratinho Jr conta com uma bancada pessoal na Assembleia Legislativa (deputados eleitos em função da elevada soma de votos que ele conquistou na ocasião), muito embora seja viável concluir que vantagem como essa é perfeitamente ilusória, além de esfumar numa eleição majoritária, quando interesses superiores e muitas vezes inconfessáveis entram em campo.
Em outras palavras, a pretensa vantagem pode ser plenamente ignorada com a maior cara de pau por aqueles que antes faziam festa e davam tapinhas nas costas do ungido. Enfim, é a política.
O ex-senador Osmar Dias que se debateu com a questão da candidatura do irmão Álvaro à presidência da República pelo Podemos, colocando como prioridade o apoio fraternal à pretensão do mano mais velho, independentemente da aliança partidária formada em torno de sua candidatura ao governo do Paraná, acabou isolando-se no PDT, embora apresente em sua bagagem a positiva passagem pela Secretaria da Agricultura, período em que o agronegócio paranaense consolidou sua arrancada, além dos dois mandatos no Senado da República.
Num cenário pouco mais especulativo, mas prenhe de verdade, a segunda década do século 21 no Paraná vê a consolidação da força política da família Richa, com a quase certa eleição de Beto ao Senado (onde o pai também esteve), além da possível eleição do irmão Pepe à Câmara dos Deputados e do filho Marcelo à Assembleia Legislativa. Não fosse pouco, a atual secretária e mulher de Beto, Fernanda, é desde já pule de dez na próxima eleição para a prefeitura de Curitiba.
Trilhando caminho parecido e com uma desenvoltura que deve causar inveja a muitos outros políticos, a família Barros também se assume como protagonista no cenário da política paranaense, carregando o legado deixado pelo patriarca Silvio Barros na prefeitura de Maringá, cargo também exercido anos depois pelos filhos Ricardo e Silvio II, ambos credenciados pelas excelentes gestões na belíssima cidade do Noroeste. Ricardo será o coordenador da campanha de Cida ao governo, ao mesmo tempo em que vai cuidar de seu retorno à Câmara dos Deputados, onde sempre foi figura de relevo e hoje aclamado como um dos mais eficientes ministros do governo Temer.
Não disponho de argumentos para assegurar quando esse estado de coisas vai mudar.