por Flavio Jacobsen
José Maschio é conhecido como “Ganchão”. Tem mais de trinta anos de jornalismo. Atua em Londrina, mas já rodou mundo em redações de veículos como a Folha de São Paulo, em que foi correspondente no norte do Paraná por 20 anos. Ganhou fama na reportagem. Temido pelos poderosos, respeitado pelos colegas, admirado pelos leitores e amigos.
Depois do livro-reportagem concebido a quatro mãos com Luis Taques, onde ambos traçam a anatomia de um caso de corrupção no centro-oeste brasileiro em “Crônica de uma Grande Farsa” (Kan Editora, 2013), Maschio chega a seu primeiro romance, “Tempos de Cigarro Sem Filtro” (Kan Editora, 2018).
Sobre o novo livro, “Ganchão” faz certo rodeio, mas entrega: “calça curta falar do livro da gente, te dou algumas dicas. Tempos de Cigarro Sem Filtro é um recorte da ditadura no governo Médici, o mais sanguinário dos ditadores brasileiros. Uma época da explosão do milagre econômico (para poucos), da massificação da água encanada e da luz elétrica, mas também da tortura, da repressão e da institucionalização do esquadrão da morte. Um recorte amparado na história de personagens que pouco ou nada sabiam do processo político, o degrau de baixo, dos desvalidos, sem carteira assinada ou sem noção do momento político”.
Ao contrário das narrativas mais comuns sobre o período, geralmente do ponto de vista da classe média mais abastada, José Maschio coloca a história a partir da ótica e da experiência das pessoas do povo. “Uma visão da ditadura a partir do povaréu, o cidadão sem trabalho fixo. Uma coisa triste, que está para voltar com o golpe judicial-midiático que tivemos agora”, enfatiza.
Sobre o ofício de escritor, o autor declara: “é meu primeiro romance, antes já havia publicado contos em revistas e jornais. Mas romance, em livro, é o primeiro. Espero que de muitos (risos)”. Acerca do estilo simples e direto que o romance carrega, provável “sotaque” adquirido no ofício da reportagem, Maschio vai além. “Eu faço literatura popular, ou do povo, porque sou oriundo do povo, do andar de baixo. No Brasil, literatura, quase sempre – existem as exceções – é feita por gente bem-nascida, bem-criada e nada sofrida. Logo as personagens refletem sempre a classe média, a pequena burguesia, seus mundinhos, decepções e taras. Na minha literatura as personagens são o servente, o cerqueiro (fazedor de cercas) o boia-fria, o ferrado, que se vira no jogo de vida, da sinuca da bola sete no canto, da porrinha. Sem arreglo para a burguesia”.
Romance de estreia na ficção, pela Kan Editora
O lançamento em Curitiba será no bar Frango Atropelado, no Bom Retiro, a partir das 19 horas. “Mas devo estar lá pelas seis da tarde, e vamos molhar a palavra”, relata animado o autor.
…
Serviço:
Tempos de Cigarro Sem Filtro
Lançamento do romance de José Maschio
23 de março – sexta – 19 horas
Frango Atropelado
Nilo Peçanha, 1246 – Bom Retiro
R$40 (preço do exemplar)