por Bernardo Mello Franco
Uma mistura de culto evangélico e programa policial de TV. Assim foi o ato que selou ontem a filiação de Jair Bolsonaro ao PSL.
O presidenciável defendeu a liberação das armas e prometeu combater “vagabundos” e “marginais”. Ele temperou o discurso com menções a Deus e à “família brasileira”.
O deputado encarregou Magno Malta, dublê de senador e cantor gospel, de puxar uma corrente de oração.
Em seguida, investiu no culto à própria personalidade. “Eu sou o Messias. Jair Messias Bolsonaro”, disse, para delírio dos seguidores que lotavam um dos plenários da Câmara.
O capitão reformado incitou o sentimento nacionalista da plateia. “Vamos voltar a ter orgulho da nossa bandeira”, prometeu.
“Mito! Mito! Mito!”, responderam os aliados, em coro. “Só tem uma maneira de esta bandeira ficar vermelha: com o meu sangue”, emendou Bolsonaro.
“A violência se combate com energia, e se for necessário, com mais violência”, prosseguiu o pré-candidato.
Ele prometeu pedir votos para os colegas da bancada da bala, que se acotovelavam a seu redor. “Quem sabe teremos aqui a bancada da metralhadora”, gracejou.
Dizendo-se defensor da família, o deputado disse que a homossexualidade “não é normal”.
– “Um pai prefere chegar em casa e ver o filho com o braço quebrado no futebol, e não brincando de boneca”, discursou.
– “Casamento é entre homem e mulher, e ponto final”, continuou, apesar de o STF já ter reconhecido a união estável de pessoas do mesmo sexo.
Em outra passagem, Bolsonaro prometeu varrer os partidos de esquerda do Congresso.
– “Quem reza dessa cartilha de esquerda não merece conviver com os bens da democracia e do capitalismo”, disse. “Nós temos que alijá-los”, acrescentou.
Deputado há 27 anos, o presidenciável se apresentou como promessa de renovação na política.
Ele ainda citou Donald Trump como “exemplo para nós seguirmos” e atacou a imprensa, a quem acusou de “conivente com a corrupção”.
Antes de ouvir o líder, Magno Malta se ofereceu para o cargo de vice em sua chapa.
Ex-aliado de Lula e Dilma Rousseff, ele evitou lembrar o passado ao lado dos petistas.
– “Agora você é extrema-direita. Isso não ofende, não”, disse, olhando para Bolsonaro. “Extrema-direita é o que nós somos”, concluiu.
*Publicado no jornal O Globo