por Gregório Duvivier
… A diferença entre direita e a esquerda é que a direita é ridícula, mas a esquerda é insuportável. Enquanto a direita virtual passa o dia se preocupando com quem você transa ou o que você fuma, a esquerda dedica horas ao que você veste e ao que você diz.
A direita diz quais drogas você pode consumir, a esquerda diz quais os termos e as fantasias de Carnaval que você pode usar. Uma regula as substâncias e os corpos, a outra regula a linguagem e a vestimenta.
Ninguém parece, de fato, se incomodar com os animais que nos governam, o imposto regressivo, as leis reprodutivas, a escalada do fascismo.
Enquanto a direita passa o dia na internet xingando Boulos, Paula Lavigne, Emicida, Criolo, Chico Buarque, Jean Wyllys, a esquerda de Facebook —pasme— também. Os inimigos de ambos os lados são os mesmos: quem tá, de fato, tentando fazer alguma coisa.
A treta, esse esporte nacional, se distingue da discussão por um dado fundamental: os envolvidos pertencem ao mesmo campo e concordam sobre tudo menos sobre quem é a pessoa certa pra enunciar aquilo. A treta é uma briga territorial. “Concordo com você, mas quem deveria dizer isso sou eu.”
Publicado na Folha de S.Paulo
Todo dia é dia de treta. Outro dia alguém reclamava do termo em inglês pra quem não tem filhos, “childless”, porque “parece que existe uma desvantagem, já que o sufixo ‘less’ indica uma falta”.
O reclamante advogava então pelo termo “child free”: “livre de crianças”. Imediatamente surgiram pessoas ofendidíssimas com o termo que tinha acabado de surgir. “Child free” perpetua a ideia de que só as mulheres sem filho é que são livres.
Inicia-se então uma briga interminável entre os childless e os childfree, em que ninguém pareceu lembrar de que esse problema não existe na língua portuguesa. Sem saber a qual turba aderir, falando inglês mal e porcamente, resolvi abandonar de vez o Facebook, até porque ia ganhar uma filha, e quem se envolve nesse tipo de discussão só pode ser childless —ou child free.
A diferença entre direita e a esquerda é que a direita é ridícula, mas a esquerda é insuportável. Enquanto a direita virtual passa o dia se preocupando com quem você transa ou o que você fuma, a esquerda dedica horas ao que você veste e ao que você diz.
A direita diz quais drogas você pode consumir, a esquerda diz quais os termos e as fantasias de Carnaval que você pode usar. Uma regula as substâncias e os corpos, a outra regula a linguagem e a vestimenta.
Ninguém parece, de fato, se incomodar com os animais que nos governam, o imposto regressivo, as leis reprodutivas, a escalada do fascismo.
Enquanto a direita passa o dia na internet xingando Boulos, Paula Lavigne, Emicida, Criolo, Chico Buarque, Jean Wyllys, a esquerda de Facebook —pasme— também. Os inimigos de ambos os lados são os mesmos: quem tá, de fato, tentando fazer alguma coisa.
A treta, esse esporte nacional, se distingue da discussão por um dado fundamental: os envolvidos pertencem ao mesmo campo e concordam sobre tudo menos sobre quem é a pessoa certa pra enunciar aquilo. A treta é uma briga territorial. “Concordo com você, mas quem deveria dizer isso sou eu.”
Nunca pedi nada a ninguém, que eu me lembre. Não pedi voto, não pedi aplauso, não pedi nem carinho.
Não pedi sequer pra escrever essa coluna. “Você não me representa!”, gritaram ao longo dessa semana os narcisistas da pequena diferença. Não represento mesmo, graças a Deus.
Escrevo porque me chamaram, e enquanto quiserem meus serviços por aqui vou continuar escrevendo, porque gosto e porque tenho vontade. E deixa eu voltar pra minha child que eu não to free.