Paiê! O filho telefona. Tenho a resposta pronta: é grana, quer que eu te facilite algum caminho ou se meteu em encrenca? Ele ri. É um menino e tanto! Escreve bem melhor que eu, mas não escreve, se é que me entendem. Tenho de implorar. Ele trafega pelo cinema e arquitetura como quem respira, mas o ar que vai à sua mente é outro, não puxou ao velho coroca aqui que ainda tem em mente “Atrás da porta verde” e a cena de um dos filmes do Pasolini onde as freiras em cabines eram visitadas por um garanhão insaciável. O sorriso delas depois… Não, não é mostrado, mas pensei. O guri está chegando na idade onde depois só se faz merda de caso pensado. Liguei pra ele. Não quer falar no número redondo. Eu disse que não tem problema, ele sempre vai ter aquela cara de piá de bosta. Ele riu. Meu filho, graças aos deuses, é bem humorado. Jura que vai parar de escrever numa revista onde foi explorado até em vídeo, para mandar os textos para mim. Uma vez ele me surpreendeu. Mandei uma fotografia que fiz do MON, mas de dentro do Bosque do Papa, com câmera analógica, uma Pentax 6×7, e pedi um texto em cima. Ele escreveu duas páginas que saíram no Rascunho – e ali, na estrada que ele andou a partir do que enxerguei, eu me vi. Então tive a certeza de que, sim, filhos são os pais e vice-versa. Isso é amor.
Que bacana. A propósito, terminei de ver ontem na Netflix, Merlí, um filme espanhol que faz você se sentir lá dentro. PS.: Vontade enorme de rever Atrás da porta verde.
É o que se poderia chamar — sem medo de errar — um texto seminal!