7:28Pneu furado

de JamurJr.

Gitulio (assim mesmo, com Gi) é seu nome de batismo, ele – mas os amigos chamam de Gi. Nasceu no sudoeste, perto de Mangueirinha, onde aprendeu com o pai, mecânico, alguns segredos para fazer reparos em pneus. Certo dia decidiu se transferir para Curitiba. Cidade grande dá mais oportunidades, pensava. Alugou uma parte de um terreno e montou uma borracharia num bairro distante. Nos quatro anos que viveu ali, foi assaltado cinco vezes. No último, seu filho de 30 anos foi morto pelos bandidos. Foi nesse dia que resolveu se mudar para cidade pequena, de preferencia no litoral. Fechou a oficina e desceu a serra em busca de um local para iniciar seu negocio. Gi costuma dizer que as coisas que mais gosta são  “mulé e prozear.” E como gosta de conversar! Aos 72 anos de idade trabalha com dedicação, faz reparos com rapidez e conta histórias de sua infância e das mulheres com quem conviveu. Há três anos morando no litoral, já teve cinco companheiras. “Cinco problemas”, diz ele. A última é o maior. Mulher ciumenta como ela só. Com 62 anos tem ciúme de adolescente, ele conta. Numa tarde de verão, Gi pescava com um amigo quando chegou uma família. Uma senhora bem trajada e cara de gente de bem chegou perto do Gi para ver os peixes, quando a “mulé”, apaixonada e desnorteada saiu em disparada gritando palavrões, chamando a distinta senhora de piranha, vaca, puta etc. Gi, encabulado,pediu desculpas, pegou a maluca e foi pra casa. No caminho ela tentou se matar, abrindo a porta do carro que trafegava em velocidade. Gi segurou a doida e evitou o pior. Na casa ela tentou novamente, tomando vários comprimidos. Acabou numa UTI de hospital. Nas horas seguinte, parentes da ciumentea fizeram coro contra Gi afirmando que era o responsável pela situação da irmã. Ele  se defendeu, deixou a “mulé” no hospital e foi para casa, onde morava sozinho, no fundo da borracharia. Passados alguns dias a maluca apareceu afirmando que estava grávida, apesar de seus 62 anos de idade. “Ocê ta me enganando. Cadê o exame do médico?, perguntou a vítima. Não tinha, alguém – segundo ela – teria rasgado e colocado no lixo. Gi não acredita na “mulé”  e sabe que que, de todos os “problemas”, este é o maior. Chegou à conclusão, depois de seis mulheres em sua vida que, quem convive maritalmente com seis é igual motorista que guia carro com pneu da  frente furado – perde o rumo.

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