por Gregório Duvivier
Uma língua diz muito sobre a cultura na qual ela está inserida. Os esquimós, dizem, têm 50 palavras para a neve, outros dizem que são 7, outros dizem que isso não passa de um mito linguístico, o que muito provavelmente é verdade, mas é muito chato quando alguém estraga seu exemplo com preciosismo linguístico.
Tenho a impressão de que nosso maior tesouro vocabular se concentra no ramo da corrupção. Tramoia, mamata, mutreta, maracutaia, trambique, propina, esquema, falcatrua, negociata, muamba, faz-me rir. A corrupção está pra gente como a neve pro esquimó.
O léxico, claro, não é estanque. Aumenta à medida que surgem novas e inusitadas maneiras de burlar a lei. Mensalão, Petrolão, Trensalão, Pixuleco, Propinoduto, Grande-Acordo-Nacional-Com-Supremo-Com-Tudo.
Sérgio Côrtes, secretário preso de Sérgio Cabral, teclou, da cadeia, para um empresário-parceiro: “Podemos passar um tempo na cadeia, mas nossas putarias têm que continuar”. “Nossas-putarias” se destaca pela franqueza. Podia entrar na bandeira. Ordem e Progresso Desde que Continuem Nossas Putarias.
Essa semana surgiu uma expressão preciosa. Revelou-se, só agora, que o juiz Sergio Moro recebe, há anos, o famoso auxílio-moradia, mesmo já tendo moradia e já tendo um salário que beira os R$ 30 mil, fora os benefícios (em dezembro passa de R$ 100 mil).
Questionado, o juiz chamou o auxílio-moradia de “compensação” porque seu salário não pode ser reajustado por causa do teto constitucional.
A palavra “compensação” pra designar uma tramoia me fascinou porque mostra bem como pensa aquele que pratica uma contravenção: ele está sempre apenas resgatando o que lhe é de direito.
Sonego, mas pra compensar tanto imposto. Roubo, mas pra compensar o que me roubam. O tríplex, o helicóptero de cocaína, o apartamento cheio de caixas de dinheiro, a mala, o dinheiro na cueca, os 500 anos de vantagem indevida: tudo compensação.
Moro, claro, não é o único. Os três juízes do TRF-4 também recebem auxílio-moradia embora também possuam moradia, além do salário vultoso. Esse ano a gente deve gastar R$ 800 milhões só com o tal auxílio-moradia. Um dinheiro precioso num país em que tanta gente não tem onde morar.
Como é que esse povo dorme à noite? Pensando: “Não é corrupção, é compensação”.
Por que então pagamos o auxílio, já que não é pra moradia? Moro assumiu, Fux também: pra que juízes ganhem mais do que é permitido por lei. Isso foi dito por agentes da lei.
Até quando essas putarias vão continuar?
Esse desvio de conduta moral está minando os fundamentos éticos de todos aqueles que recebem os tais “auxílios” sob subterfúgio de indenização ou compensação salarial – trata-se de “mão grande” contra o erário público !
É ,ele disse o que venho esgoelando,compensação do auxilio moradia é uma forma de burlar o teto,burlar a constituição.portanto é crime,esse é cristalino dito de sua própria boca,não é uma suposição,um domínio do fato é um delito gravado dito por alguém que se diz justiceiro que anda de braço dado com figuras nebulosas como o Aécio Neves.