por Ranier Bragon
O Brasil irá às urnas escolher o próximo presidente à sombra do cenário que começa a ser desenhado nesta quarta-feira (24).
Tal decisão não pode admitir meias-convicções, muito menos ser influenciada pelas turbas que animam o pré-Carnaval de Porto Alegre.
Especula-se que a sentença de Sergio Moro que condenou o ex-presidente Lula será confirmada por 2 votos a 1 ou 3 a 0. Embora haja cheiro de cartas marcadas, uma goleada contra o petista não significa necessariamente marmelada. A sentença de Moro não é um mero PowerPoint.
Com base nas investigações, ele diz que Lula era o dono oculto do triplex do Guarujá, um mimo da OAS.
Não há nenhuma prova de titularidade cartorial, repetem os petistas, mas não é disso que se trata, e eles estão carecas de saber. A transação só não aconteceu, dizem acusação e sentença, porque suspeitas vieram à tona e a formalização do negócio passou a ficar arriscada demais.
Há delações, troca de mensagens, documentos apreendidos e outros indicativos que, de fato, fazem a tese da defesa lulista soar improvável.
Nada disso, porém, é incontestável. E há lacunas relevantes. Os investigadores não conseguiram apontar contrapartida específica de Lula à empreiteira. A leitura das 238 páginas da sentença de Moro trazem ainda batatadas como considerar “elemento de prova” a ausência de reprimenda pública do ex-presidente aos petistas condenados no mensalão.
Tudo pesado, é possível retirar do páreo o líder da corrida ao Planalto?
Não que essas dúvidas importem para os que, provada ou não a corrupção, querem Lula extirpado da vida pública e preso ad aeternum –em especial o neocarolismo que se ocupa em monitorar exposições artísticas, tal qual uma tia-avó coroca que dá batida nos quartos para checar quem está dormindo com quem.
Os cães ladram, e a caravana passa. Que os três desembargadores do TRF-4tenham a coragem de ser caravana nesta quarta-feira.
*Publicado na Folha de S.Paulo