6:59O povo quer é festa

por Juca Kfouri

NESTE BRASIL de farol baixo a tal ponto que ninguém dá a menor pelota para o fato de o presidente da República ser hospitalizado para fazer uma angioplastia, o torcedor de futebol ocupou quatro estádios em jogos da
Série B para comemorar a volta à Série A ou o título da segunda divisão, como os corintianos foram a Itaquera para festejar o hepta.

De fato, foram bons números os da divisão de acesso.

Em Belo Horizonte quebrou-se o recorde do Horto, com a torcida do América mineiro comparecendo em número maior que o já atingido pelos atleticanos, 22.481 torcedores, embora a um preço médio de ingressos abaixo dos R$ 5.

Outro recorde foi quebrado no Castelão, com 57 mil pessoas que pagaram R$ 25 para festejar a volta do Ceará à elite do futebol nacional.

A torcida do Paraná Clube, que já é detentora da maior ocupação da Arena da Baixada, do rival Furacão, lotou o Couto Pereira, do Coritiba, com 37.714 torcedores, numa promoção inteligente em que o paranista estabeleceu o preço do bilhete. A renda não foi fornecida, mas o preço mínimo era de R$ 20.

Finalmente, no Beira-Rio, na expectativa colorada, que o América frustrou, de ganhar o título, o Inter levou 30 mil torcedores ao preço médio de R$ 20.

Na Arena Corinthians, como em Fortaleza e em Curitiba, valia apenas a festa, porque os três pontos já não acrescentavam nada.

Mesmo assim, a comemoração do hepta levou 46 mil fiéis que pagaram R$ 63 em média, além de 15 mil no treino do sábado (24).

Provas de que com preços acessíveis neste país em crise o torcedor comparece e de que é melhor um estádio repleto com ingressos baratos do que vazio com preços altos.

A norma brasileira é a de esquecer que o futebol deve ser feito para o torcedor e que se a realidade do Corinthians ou do Inter é diferente da do América, Ceará e Paraná Clube, devido ao nível de exigência que obriga altos investimentos, é possível conciliar a fome com a vontade de comer.

Para os três menores que subiram o incentivo de suas torcidas será fundamental para se manterem na divisão principal, que vale dinheiro.

Basta dizer que no ano passado, quando o clube mineiro caiu, a média de público foi de irrisórios 3.353 pagantes por jogo, um deles com 518 testemunhas.

Não se faz futebol profissional assim e não há profissional do futebol que se motive ao jogar em estádio deserto.

América e Inter precisavam vencer e venceram, respectivamente, o CRB e o Guarani, por 1 a 0 e 2 a 0, o que valeu, exatos 20 anos depois, o bicampeonato aos americanos.

Nem Ceará, nem Paraná, precisavam, mas os nordestinos ganharam do ABC por 1 a 0 e os sulistas empataram, nos acréscimos, com o Boa Esporte, 1 a 1, para a farra ser completa.

Já o Corinthians, que vinha de apática derrota para o Flamengo em jornada de ressaca, pegou um Galo querendo vaga na Libertadores.

Apesar do crime em deixar Pablo de fora, foi bonita a festa.

O jogo?

Foi excelente, empate 2 a 2, com dois golaços, um de Otero e outro de Marquinhos Gabriel.

Mas o que interessava mesmo era a taça, que foi devidamente entregue a Cássio.

O país sombrio teve um fim de semana festivo.

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