por Yuri Vasconcelos Silva
Estava ele nu com dezenas de fios finos e fortes em água esquentando seu rosto. Olhos fechados, cabeça empinada para o alto. Turbilhão em redemoinhos no canal auditivo fazia ele ouvir mais o interior que todo o resto. O som do ar deslizando em pulmões, da jugular bombeando, da saliva descendo engolida. A paranóia costumeira surge. A regra de, estando vulnerável e despido, jamais fechar os olhos para um possível ataque neste box branco. Então arregala a visão e o que acha? Um pernilongo pousado sobre uma sobra de sabonete. Ele aproxima o olhar no inseto e descobre um mundo. O bichinho está sugando o que poderia ser a doce seiva do sabão de macadâmia. Ele fica um bom tempo a observar aquela estrutura tão frágil se encher de espuma adocicada. Há felicidade nas menores criaturas? Ali sim.
Que coisa fantástica é a felicidade e o sofrimento. Basta ser vivo para estar no céu ou no inferno.