Amassei barro e ajudei a tapar a estrutura de taipa lá naqueles confins – sob um sol de rachar. Cabecinha pequena, pra não dizer o contrário, alguém com cigarro de paia, fumo de corda fedido, disse que eu levava jeito, apesar de ter nascido na cidade grande. Fiquei com aquilo, ou seja, aquele barro que levava em porções que cabiam nas duas mãos juntas. Voltei para o casebre na periferia, bucho estufado, umbigo estourando. Mãe deu remédio para as bichas e as lombrigas saíram como num filme que depois veria na tela grande. Também ouvia no rádio os programas onde, além do trio com zabumba, triângulo e sanfona, apareciam os cantadores com seus improvisos de martelo agalopado, que era o tipo que eu gostava por causa do nome e do ritmo. Um dia me flagraram comendo barro. Não levei cascudo porque pai e mãe nunca relaram a mão em mim. Nunca esqueci aquilo. Aí, depois dos estudos, lembrei de tudo, juntei uma coisa com outra e veio a frase, como cartão de visita a quem interessar: “Como barro e cago tijolo, sou pobre, mas não tolo”.