19:34ZÉ DA SILVA

A aventura era arriscada. Atravessar a cerca dos fundos do colégio das freiras e roubar ferros que seriam utilizados nas estruturas de concreto do prédio novo que elas estavam erguendo — para faturar mais. Finalidade: produzir lanças pontudas para imitar soldados romanos que víamos na tela do cinema da vila. Tudo muito simples: feito o roubo, as peças iam para  fogueira, deixávamos a ponta incandescer e, depois, taca-lhe pancada de martelo para ter o espetão. Aí era sair para caçar inimigos inventados em forma de troncos, montes de terra, areia, etc. Isso foi até acontecer o acidente. A lança varou o ombro de um dos nossos. Ele ficou bom, mas a brincadeira foi proibida pelos pais. Restou para nossa turma excomungar as freiras. Todos nós tínhamos certeza de que elas tinham conversado com os santos para providenciar aquele susto. Foi aí que um mais celerado sugeriu que ateassemos fogo às vestes delas – mas sem o recheio. O plano era entrar na lavanderia do local onde moravam e queimar tudo. Não houve consenso. Desistimos quando um mais sensato pediu para que lembrássemos que igreja ficava do outro lado da rua. E, para nós, havia um túnel de comunicação entre a casa das freiras e a sede da paróquia. Nos aquietamos – para que a ideia de uma nova ação viesse logo.

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