Em 1975 o escritor Rubem Fonseca lançou o livro de contos “Feliz Ano Novo”. Depois de serem vendidos 30 mil exemplares, ele foi recolhido das livrarias e só voltou a ser editado em 1989, depois de uma batalha judicial deflagrada pelo autor. Armando Falcão, então ministro da Justiça, disse o seguinte sobre o que não leu: “Li pouquíssima coisa, talvez uns seis palavrões, e isso me bastou”. Com certeza o ministro da ditadura militar ignorou o que escreveu o escritor Affonso Romano de Sant’Anna antes da censura: “Para Rubem Fonseca, a questão básica não é o crime, a pornografia e a violência, mas exatamente a desmistificação dos atuais conceitos de violência, pornografia e crime”. O então senador Dinarte Mariz bateu: “Suspender Feliz Ano Novo foi pouco. Quem escreveu aquilo deveria estar na cadeia e quem lhe deu guarida também”. O jornalista Carlos Castelo Branco, o melhor colunista político do país, foi na goela dos brucutus: “Condenar como pornógrafo um dos melhores escritores brasileiros da atualidade é repetir um erro monótono no qual a incompetência oficial tem incorrido sistematicamente ao longo do tempo ao longo do tempo em diversos países”. Se no que foi descrito acima se trocar a obra de Fonseca e se colocar os quatro quadros dos mais de 200 da exposição de Porto Alegre e que causaram a reação e o fechamento da exposição, chegaremos à conclusão que nestes 42 anos pouco coisa mudou no país entrevado das trevas.