Não me ensinaram, porque professor eu sou. Aprendi no dia em que vi no espelho retrovisor o grito sem som do cachorro com a espinha fraturada por uma roda no meio da rodovia. Sei laçar na memória a imagem. Criar também. Como aquele cavalo negro no meio da escuridão, vento zunindo, frio de congelar, ele vindo em sua direção sem você ver nada. A imagem da santa sob a água de um igarapé perdido no Amazonas. O cadáver nos sorrindo do alto da árvore enquanto as formigas passeiam na toalha estendida na sombra para o piquenique. Bote da serpente com dentes de tubarão branco. Lá se foi minha mão. Lá se foi minha mãe – com as flores de plástico grudadas no peito. Sou professor. Sou meu aluno. E não peço desculpas.