Rogério Distéfano
NÃO NOS VÍAMOS há uns cinco anos, daí estranhar o convite, assim do nada, para almoço em sua casa, onde nunca estivera. Feijoada excelente, couve e torresmo como os da crônica de Rubem Braga. O vinho encorpado, doce de leite na sobremesa, “mandei buscar em Minas”, disse ele.
O estagiário enricara, coisa rara em profissionais de um único cliente. Foi antes da Lava Jato, na qual o empregado levava comissão na propina. Casa de luxo, exibiu tudo, desde a despensa até a sauna, intervalo na “suíte máster” com a banheira Jacuzzi, ele e a mulher orgulhosos, eu, sem jeito.
Os filhos, nomes de personagens de heróis da televisão americana. Na saída, ganho presente, garrafa de vinho, “lembrança do reencontro”. Para a mulher, a pergunta, imperativa: “Deu baixa do vinho no kardex?” Aprendeu vendo o patrão que, indiferente ao kardex, faliu no ano seguinte. Ele, mais rico.