De Norman Mailer ao jornalista Harper Barnes, editor do The Village Voice*
Eu gosto do Village Voice. É um jornal que aprovo. E confesso haver ocasiões em que ele se torna o meu jornal predileto, embora para isso possa contribuir minha condição de acionista da empresa. De qualquer maneira, o Voice corresponde plenamente à minha idéia de jornal. Seus textos são parciais, tendenciosos, repletos das idiossincrasias e dos fanatismos de cada autor, exatamente como devem ser. Não me ocorre maldição mais ameaçadora para o jornalismo do que a objetividade, cujo único efeito é ocultar de nós as preferências do autor, que nos permitiriam reinterpretar o que ele escreve e, assim, fazer alguma idéia do que realmente terá ocorrido. Em vez disso, o que nos passam são as preferências, sem as pistas. No caso do Voice, o leitor não precisa hesitar para decidir se gosta ou não da pessoa que escreveu e concluir se ele ou ela está ou não falando um monte de asneiras ou mentiras. E assim podemos formar uma idéia das circunstâncias. No caso, uma visão do mundo a partir do território de Greenwich Village. Que mais um jornal pode trazer? E por isso confesso que gosto dele, talvez até demais, porque corresponde totalmente à minha idéia de como deve ser o jornalismo.
*Carta escrita em 1974