19:24ZÉ DA SILVA

Vi o assassinato. Minha turma de colégio se reuniu para ir até aquela metalúrgica que jogava fora os martelos que não ficavam de acordo com o figurino. O amontoado ficava nos fundos da fábrica, mas teríamos de atravessar um pequeno córrego para chegar lá. O medo era de tudo. Na rua que levava ao ápice da aventura, de repente vimos um menino correndo e um homem atrás, à meia distância. Ele não falou nada – apenas mirou e atirou. O garoto caiu sobre o meio-fio. O homem saiu rápido da cena e nosso pavor aumentou ao extremo. Na nossa ação, poderíamos levar tiros também? Passamos ao lado da vítima. Ele agonizava. Cabeça estourada pela bala certeira. Continuamos. Tudo embaralhado na mente e na alma. Coração na boca.
Atravessamos o riozinho. Não havia nada para levar. Voltamos para nossas casas por outro caminho. O menino respirando com dificuldade, com o rosto voltado para o céu, me acompanha até hoje.

Uma ideia sobre “ZÉ DA SILVA

  1. Sergio Silvestre

    Na trilha encantada não vejo mais meus fantasmas,estariam eles embrenhados na neblina ou são meus olhos cansados de ver.

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