Era uma daquelas embromações de professor. Curso: comunicação. O tal pediu para que gravássemos o som que nos desse na telha para levar à sala de aula. Depois que cada um apresentasse o “trabalho”, ele seria discutido pelos alunos. Ok. Em casa havia uma guarda-roupa do tempo da Maria Antonieta cuja porta central, onde havia um espelho por dentro, rangia de uma forma tão estridente que, cedinho, irritava mais que despertador ou galo com ataque de estrelismo. Fiz mais do que queria: no meu Panasonic último tipo gravei um sinfonia inspirado em Hermeto Pascoal – coisa de âmago, sentida no ato. Levei a fita cassete e, na hora em que fui chamado lá na frente, ao apertar o play… cadê que tinha som? Fiquei na minha. Calado. Todos em silêncio absoluto. O professor com cara de espanto. Eu, sentindo o efeito, com fachada de artista transgressor e superior àqueles seres comuns. Aí ficaram o resto da aula e mais algumas outras discutindo se a falta de som é som e outras baboseiras parecidas. Naquela semana uma donzela que nem me dava bola partiu para o ataque ao geniozinho. A partir disso, todo dia ao ouvir alguém abrir aquela porta da felicidade, eu sorria. Depois, ia lá e beijava a dita. Ela existe até hoje, mas nunca mais fez barulho – porque os donos da mobília partiram para o silêncio.
Muito bom!