Rogério Distéfano
Dor na consciência
NÃO SEI SE ERA JOVEM ou senhora de idade. Mulher, sim, o MS na língua de aeroporto esclarecia. Não vi a pessoa, só a nacionalidade, vietnamita. E do antigo Vietnã do Norte, que captou o imaginário de minha juventude quando na guerra com os EUA o general Giap mostrou-se estrategista do nível de Alexandre e de Bonaparte. Mas afirmo que gostaria de ter conhecido a vietnamita, por mera questão de solidariedade.
Aconteceu nos dois aeroportos, no de partida e nos de chegada, o da vietnamita em questão e o meu. Ambos partíamos do mesmo aeroporto, viajaríamos pela mesma companhia, despachamos a bagagem ou no mesmo guichê ou em guichês vizinhos. Devemos ter cruzado casual e acidentalmente, ou estivemos no mesmo lugar com segundos de diferença. Uma de tantas brincadeiras do destino
Não sei como a vietnamita viajava, se, como eu, que servia de laranja para quem vinha com bagagem excessiva, e daí o atrapalho com os recibos de bagagem, seis na mão. Naquele estresse de aeroporto vi um recibo no chão. Como quase perdera meu bilhete de passagem, achei que o recibo era dos meus, tanto na função mim como na de laranja de bagagem. Juntei aos outros, enfiei no bolso e embarquei.
No desembarque recolhi as malas, nem olhei os recibos, no Brasil ninguém confere. Em casa notei um a mais, da passageira que viajou para Hanói, capital do antigo Vietnã do Norte, hoje unificado no pós-comunismo. No desembarque, um resquício de rigor estalinista terá retido a bagagem de Huang Loan Tran por falta do recibo? Ainda encontro Huang pela internet. Descargo de consciência.