por Fernando Muniz
“Filhinha, não sei se em outros planetas tem gente feito nós” – a mulher tenta acomodar a menina junto a si, enroladas em um cobertor, a mirar o universo do deck da casa de campo.
A garotinha olha para o céu sem nuvens, logo acima da copa das árvores, impressionada com o espetáculo. “Mas tem tanta estrela no céu, será que ninguém mora lá?”
“Pode ser que sim, querida” – a mãe puxa a manta e arruma as duas. Olha as estrelas um tanto apreensiva – vem à mente o roteiro inverossímil de um filme qualquer, de ficção científica. Logo balança a cabeça, em descrédito.
“Mas será que eles sabem que nós moramos aqui?”. A garotinha coça a cabeça e a mãe se enche de ternura por aquela curiosidade, faz carinho na sua orelha e a aperta contra si.
“Já tentamos vários contatos; mandamos satélites, sinais de rádio, de televisão, até música mandamos” – explica em um tom professoral. Quem sabe ela fica quieta.
Mas a menina não se cansa. Tudo tão imenso, misterioso. Abraça a mãe com força.
“Vai ver eles não querem saber de nós…”.
E suspira, com frio.