por Gregorio Duvivier
O gigante acordou. Tava dormindo havia décadas, talvez séculos, já nem lembra. Só lembra que tinha sido trancado, torturado, silenciado. Já nem sabe por quem. E nem faz diferença. Agora que acordou, tá puto da vida. “Nunca mais eu vou dormir”, disse o gigante. Nunca mais eu vou dormir.
“Que merda é essa?”, disse o pessoal na torre de comando. Vamos botar esse gigante pra dormir na base da porrada. Esculacha esse gigante. Rasteira no gigante. Gás lacrimogêneo no gigante. Bota esse gigante pra chorar. O gigante ficou mais puto ainda. Esquivava, estrebuchava, caía e levantava de novo. Puta que o pariu, esse gigante é maior do que eu pensava. Bala de borracha no gigante. Bala de verdade no gigante. Põe a TV pra criminalizar o gigante. Mostra na TV o bicho furioso. “Gigante violento pratica vandalismo”, “vândalo gigante vandaliza a violência”, “vandalismo agiganta a prática da violência”, até que vaza imagem do bicho de verdade, todo lanhado, se defendendo com um pedaço de pau, maldita internet, e agora todo o mundo tá do lado do gigante. Parece até que o gigante é vítima, coitado. “The giant has awoken”, o gigante ganha fama internacional, “le géant s’est réveillé”, “el gigante despertó”. Até a TV mudou de ideia: gente, eu pensei melhor e esse gigante é fofo. E o gigante crescendo e crescendo.
Cacete, o que é que a gente faz com essa porra desse gigante? Não adianta lutar contra. Tem que dar comida pro gigante. Toma biscoito, gigante. Tamo junto, gigante. #SomosTodosGigante. Tá vendo aquela mulher, gigante? O negócio é tirar ela de lá. “Mas e depois?”, disse o gigante. Foca nela. Depois a gente tira o resto. E eles tiraram a mulher de lá, com a força do gigante.
E o resto? “Calma”, eles disseram, calma que tá bom assim. Mas a gente combinou. O pessoal lá em cima ria. Foi só aí que o gigante percebeu. Eram eles que tinham trancado o gigante num porão lá atrás. “Ah, mas esse gigante”, eles diziam, rindo. Que memória curta. O gigante chutou a torre de comando. Chutou. Sacudiu. Berrou. Nada.
Exausto, o gigante voltou a dormir ali mesmo. Acordou na sarjeta com a ressaca do século. Quanto tempo passou? Já não se lembrava de nada. Comprou um fidget spinner e voltou pra casa. Ligou o ar-condicionado, pediu pizza e dormiu de novo, assistindo a um documentário de bebê na Netflix.
Acorda, gigante. Vamo pra rua. Shhhh. Apaga essa luz. E alcança pra mim uma Neosaldina.
*Publicado na Folha de S.Paulo
Malham o gigante,mentem do gigante,matam a mulher do gigante,mas o pov está com o gigante,e o gigante vai ser eleito presidente.
Ainda bem que o gigante – o povo brasileiro, está despertando e descobrindo as asneiras faladas, escritas e aplicadas pelos petistas e esquerdistas. O Dudivier e o pombo silvestre são exemplos destas asneiras