Há uma passagem no excepcional “Os Eleitos”, de Tom Wolfe, uma grande reportagem sobre o programa espacial norte-americano, onde um bando de jornalistas destrói o jardim da mulher de um astronauta no intuito de gravar uma entrevista, fazer uma imagem, ou qualquer coisa que “renda” notícia. Ela está trancada em casa sofrendo a dor da possibilidade da morte do companheiro no espaço. No texto, os que estão em busca da notícia são comparados a urubus sedentos de carniça. No Brasil, de uns tempos para cá, tudo ficou tão podre na política que a carniça é distribuída à vontade – e com interesse específico. O público que assiste ao espetáculo recebe a carga diária de carne podre, se confunde com tanta porcaria e fica na expectativa que uma eleição, seja ela qual for, protagonizada pelos mesmos representantes do que aí está, vá iluminar o caminho da redenção do país. Assim, acorda-se num sábado e se lê a notícia confirmando que Jair Bolsonaro tem tudo para ser o principal adversário de Lula, enquanto João Doria, Geraldo Alckmin, Marina Silva e outros menos votados se esforçam para “chegar lá”.