por Marcelo Spalding
Dalton Trevisan é escritor que escreve, caso raro hoje em dia, quando escritores dão entrevistas, fazem shows, tocam instrumentos, aparecem na televisão, rebolam e até escrevem. E Trevisan escreve muito: seus contos curtos e seus minicontos são verdadeiros icebergs com muito mais de um oitavo submerso, textos que não subestimam o leitor e dão a ele enorme espaço de interpretação. Novelas Nada Exemplares, de 1959, e Ah, É?, de 1994, são símbolos desta estética concisa. O primeiro foi um desafio à prolixidade literária de seu tempo, um livro avant la lettre. O segundo foi um nocaute no que restasse de prolixo na prosa brasileira. Ao resumir toda uma história em: “A velha insônia tossiu três da manhã.”, Trevisan recupera o essencial da prosa, testa os limites narrativos e reinventa sua própria estética. Tudo isso em silêncio, sem holofotes, afinal Trevisan é escritor que escreve.
*Publicado no jornal Cândido
E como escreve! Um mestre que se escrevesse em espanhol talvez já tivesse levado um Nobel. Até Bob Dilan já levou !