por Célio Heitor Guimarães
Tenho dito e repetido que esses atuais avanços tecnológicos são obras do demônio. É claro que muito poucos me compreendem. O próprio negócio do e-mail – que é, juntamente com a internet, os únicos modernismos eletrônicos que aceito e uso – também pode causar grandes estragos, com resultados muitas vezes imprevisíveis. Vejam esse hipotético acontecimento, colhido na rede e que encontrei entre os meus guardados:
O sujeito chegou de viagem e, ao entrar no quarto do hotel, viu que ali havia um computador com acesso à internet. Então, decidiu enviar um e-mail para a mulher. Só que errou o endereço e a mensagem foi recebida por uma viúva que acabara de voltar do enterro do marido e que, ao conferir os seus e-mails, desmaiou instantaneamente.
O filho, ao chegar em casa, encontrou a mãe desmaiada perto do computador, em cuja tela lia-se o seguinte:
“Querida esposa:
“Cheguei bem. Talvez você se surpreenda ao receber notícias minhas por e-mail, mas agora tem computador aqui e pode-se enviar mensagens às pessoas queridas.
“Acabo de chegar e já me certifiquei que está tudo preparado para quando você vier na próxima sexta-feira.
“Tenho muita vontade de te rever e espero que a sua viagem seja tão tranquila como foi a minha.
“PS – Não traga muita roupa, porque aqui faz um calor infernal.”
Na mesma cadência, e até como complemento ao acima transcrito, é outro episódio, também retirado de meus arquivos e igualmente captado na internet:
Um moleque metido a besta, que assistia a uma partida de futebol pela TV, tomou para si a responsabilidade de explicar a um senhor de certa idade, que ali também estava, por que era impossível a alguém da velha geração entender a atual:
– Vocês cresceram em um mundo diferente, um mundo quase primitivo.
Falou alto, de modo que todos os presentes pudessem ouvi-lo. E continuou, no mesmo tom: “Nós, os jovens de hoje, crescemos com televisão, aviões a jato, viagens espaciais, homens caminhando na Lua, espaçonaves terrestres pousando em Marte. Nós temos energia nuclear, carros elétricos e a hidrogênio, computadores com grande capacidade de processamento…”
Aí, fez uma pausa para tomar um gole de cerveja. O velho aproveitou para tomar a palavra:
– Você está certo, filho. Nós não tivemos essas coisas todas quando éramos jovens… Por isso, as inventamos. E você, um bostinha arrogante dos dias de hoje, o que está fazendo para a próxima geração?…
Foi ruidosamente aplaudido pela plateia presente.
P.S. – O notável Ruy Castro, companheiro resistente, que como eu e Luís Fernando Veríssimo, entre outros poucos, não tem celular, narra em delicioso texto publicado pelo Zé Beto na segunda-feira (“Utilidades demais”), cena da qual participou na Av. Rio Branco, no Rio de Janeiro, quando confessou a um camelô que não usava celular. Vale a reprodução de um parágrafo:
“O camelô se escandalizou: ‘Não usa celular???’, perguntou, com vários pontos de interrogação e num volume que o fez ser ouvido por todo mundo em volta. A frase se espalhou pelos demais camelôs e, em segundos, à medida que eu passava pelo corredor humano, podia sentir os dedos apontados para mim e a frase: ‘Não usa celular!!!’. Para eles, eu devia equivaler a alguém que ainda não tinha aderido ao banho quente ou à luz elétrica. Acho até que um camelô me fotografou, talvez para mostrar a algum amigo incrédulo – como pode haver, em 2017, quem não use celular?”
Pode sim, Ruy. Nós, graças a Deus!
Excelente texto, Dr. Célio!
Célio, como sempre, um grande mestre que aprendi a respeitar ainda estudante de Jornalismo, lá pelo fim dos anos 1960, e com quem tive a honra de partilhar, já como profissional, o dia–dia da notícia na velha e heróica redação de “O Estado”, na Barão do Rio Branco, quando, à época, tínhamos ao lado não só o sempre degustável Bar Palácio, como também a Casa Ferroviário 444 – isso vale para quem ainda curte o tempo em que a ferrovia era responsável, em boa parte, pelo ir-e-vir da economia regional.
Célio, meu caro, agora que estou às vésperas da aposentadoria, prometo, já no curto prazo, estar mais presente com meus comentário neste espaço aberto pelo democrático Zé Beto que também viveu e vive os grande momentos de um jornalismo que continuamos perseguindo como delicioso vício. Abraço do Urban.
Obrigado pelo apoio, caros amigos.
Embora eu seja eternamente grato ao grande e generoso Zé Beto pela acolhida, também tenho imensa saudade do jornal impresso, do tempo em que – como bem definiu o nosso certeiro Ivan Schmidt – havia imprensa escrita importante em Curitiba; do inesquecível Mussa José Assis, do Chico Camargo, do Aramis, do Zaruk, do Schaitza e do Raul Urban, entre outros.
Apareça sempre, Raul, pois será sempre bem-vindo.
Agora, meu prezado Ernandes, que negócio é esse de “Dr. Célio”? Nunca fui doutor. Nem quando exercia a advocacia. Era só bacharel em Direito, e olha lá!