7:54Pensando bem…

Rogério Distéfano

BEIJINHO NO OMBRO

Em verdade vos digo, tenho aversão às tatuagens. Mais: esforço-me para não estendê-la aos tatuados. Não posso, tenho um filho e uma nora tatuados e rezo todos os dias para que seus filhos, meus netos, não me apareçam com tatuagens. Não é preconceito social ou de classe, aquilo de considerar os tatuados marginais porque é cultura de prisão, etc. Nada disso. É ranço judaico-cristão, bíblico, de que nosso corpo é a imagem de Deus. Boa desculpa, não acham?

Carrego a solidariedade dos doutos, como a professora Annelise Roskamp, dermatologista. Ela pondera que os tatuados não contam com a velhice, que enruga a pele e deixa a imagem tatuada na juventude feito mancha, um borrão na pelanca. Ou os erros ortográficos de tradutores, como escrever “amor çó de mãe”. Pior ainda, o amor tatuado e matado que precisa ser removido, a mancha física mais longeva que a sentimental. Caso de Luana Piovani, o caso mais conhecido.

Não creio que os aficionados da tatuagem, ainda que fervorosos adeptos de Michel Temer, aplaudam o deputado Wladimir Costa, do Pará, que tatuou no ombro o nome do presidente. Nada bastasse, juntou o insulto à injúria com a tatuagem-irmã, a bandeira do Brasil. A moldura do despautério reforça o ridículo: Wladimir desfila com peito, braços e pernas depilados, rosto preenchido com botox e cabelos cor de burro-quando-foge. Isso não é política, já é amor.

Amor e tatuagem de hábito andam juntos. Outro episódio de amor por Michel Temer registrado em tatuagem é o da primeira-dama. Sim, Marcela. A bela do lar só foge do recato quando exibe o nome do amado em registro perpétuo, tatuado: sua divina e nacarada nuca traz o opróbrio do nome execrado por oito entre dez brasileiros que, segundo recente pesquisa, querem Michel Temer fora do governo. A tatuagem identifica os dois que o querem dentro: Marcela e Wladimir.

Tenho consolidada a crença de que nada do que fazemos é gratuito; ainda que não saibamos explicar, a causa pode ser encontrada no inconsciente. Por que o deputado Wladimir Costa tatua Michel Temer no ombro? Ora, fácil: ele recalcou a música de Valeska Popozuda, quer receber um beijinho no ombro, dado pela boca de Temer. E Marcela, a tatuagem na nuca? Percorri dois manuais de Freud e ainda não descobri o porquê da tatuagem logo ali. Mas ainda chego lá.  

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