Tem um céu quente na minha frente, mas sinto frio. A camiseta, onde há um canguru verde bordado, está toda esburacada num dos sovacos. Vai ver que é isso. Mas lembrei agora da favela do Buraco Quente, que existe em todo lugar. Estranhei neste momento a constatação, com frio nos braços, no rosto, nos pés descalços e diante deste céu que não paro de olhar porque rosa, dourado, degradê. Não consigo sair desta cadeira cuja imitação de couro está sumindo aos poucos. Ela é nova, mas parece velha. Eu sou velho – e pareço velho. Talvez se eu pedir ajuda, gritando pela janela que me faz ver o céu… O que posso berrar? Não sei fazer isso. Tenho vergonha. Minha timidez só vai embora em estádio de futebol – na hora do gol do meu time. Vou ficar quieto. Mesmo porque está escurecendo. Pronto. A noite é fria e aqui dentro está quente. Que vida!