Rogério Distéfano
O FATOR SURPRESA
O ministro Raul Jungmann, da Justiça, promete “fator surpresa” contra o crime no Rio, agora policiado pela Força Nacional. Será surpresa, pois nem os bandidos nem os cariocas têm noção do que poderá acontecer. Nós podemos especular, ainda que dizendo bobagem. Sim, porque temos a melhor justificativa: qualquer bobagem que dissermos é fichinha diante das asneiras cabeludas que saem das bocas malsãs dos políticos. Adorei esse ‘malsã’.
Daí me arrisco sobre o “fator surpresa”. Será uma bomba atômica. Absurdo, pode ser, mas apenas num ponto: o Brasil não tem bomba atômica. Não que faltem recursos ou tecnologia, porque isso se consegue, mesmo à custa da fome do povo. Afinal, quem sustenta nossa fome e nosso atraso? O apetite dos políticos. O Brasil (ainda) não tem bomba atômica porque no dia seguinte a Argentina também teria. Frente a uma Argentina bombada o Brasil não dá para o primeiro tempo.
Desvio do assunto. Por que a bomba atômica como fator surpresa no Rio? Simples, não há como acabar com o crime usando os recursos disponíveis e usuais, incluídas as Forças Armadas. Porque no Rio de Janeiro o crime é imbatível e frutifica na aliança entre criminosos, a polícia e a clientela em todos os níveis sociais. Acima dos bandidos, mais bandidos que os piores bandidos, estão os políticos do Rio. Cito os mais famosos pelas iniciais: Sérgio Cabral e Eduardo Cunha.
Encerro com a paráfrase a Fernando Pessoa, no poema ‘Liberdade’: mais do que as FA só o Espírito Santo, que pode mandar um anjo de fogo para dizimar aquela Sodoma-Gomorra. Bomba atômica e anjo de fogo dão no mesmo, a bomba a versão moderna do flagelo bíblico. Diferem apenas num ponto: a bomba não transforma a primeira dama do ex-governador Sérgio Cabral em estátua de sal nem esbugalha mais os olhos da senhora Eduardo Cunha. Amém.