Do blog …e tudo acabou em Sfiha, de Gerson Guelmann
Depois de 50 anos morando nos USA, uma senhora judia, Dª Clara, já avó, finalmente cedeu aos argumentos dos filhos e netos e decidiu pedir a cidadania americana.
Logo que recebeu os documentos Dª Clara registrou-se para votar e em seguida foi convocada pela Justiça para coordenar os jurados num caso rumoroso. A cidade tinha sido abalada por um crime passional: um marido, ao flagrar a mulher com o amante, atirou em ambos, matando o homem.
Filhos e netos ficaram orgulhosos pela escolha, porque na família ela era conhecida pelo espírito conciliador, sempre pronta a aparar arestas e evitar conflitos. O conselho mais comum que dava aos filhos era “não se metam com a vida dos outros.” Todos tinham certeza de que essas qualidades seriam valiosas no julgamento.
A opinião pública estava dividida acerca da punição. As conversas em todos os lugares da cidade não tinham outro assunto e o que mais se falava era na dificuldade que o juri teria para decidir.
Em razão disso no dia do julgamento a sala do Tribunal ficou lotada. A sessão se estendeu por horas a fio e os advogados de defesa e acusação chamaram muitas testemunhas, esgotando argumentos para convencer o juri.
O tempo foi passando e a tensão do público cresceu, chegando ao ápice quando os jurados retornaram da sala onde tinham ido deliberar.
Finalmente chegou o momento tão esperado.
– “Sim, Meritíssimo, chegamos” – respondeu ela.
– “E qual é?” – disse ele.
O Tribunal ficou em silêncio e Dª Clara respondeu:
– “Nós decidimos que não vamos nos intrometer.”