18:13Raquel Dodge pretende inibir vazamentos

Do blog Interesse Público, de Frederico Vasconcelos

Contratação, por Rodrigo Janot, de empresa privada de comunicação gerou ruídos internos e cobranças externas.

Reportagem de Maíra Magro, publicada na última sexta-feira (30) no “Valor“, revela que a subprocuradora-geral da República Raquel Dodge, indicada pelo presidente Michel Temer para suceder a Rodrigo Janot na Procuradoria-Geral da República, pretende criar mecanismos para garantir o sigilo das investigações da Lava Jato, evitando vazamentos que, em sua visão, prejudicam as investigações.

Ela propõe o que chamou de “protocolo da cadeia de custódia dos documentos sigilosos”. Segundo a reportagem, seria “um mecanismo para identificar, em uma investigação, quem pôs a mão em que documento, em determinada hora”.

“O objetivo é auxiliar no desvendamento de quem vazou. A lei determina o sigilo e ele tem que ser respeitado”, diz Dodge.

Ainda segundo a reportagem, outro motivo para manter o sigilo das investigações, de acordo com Dodge, é preservar a dignidade das pessoas envolvidas.

“Muitas vezes a exposição equivocada, antecipada, pode induzir a erro, como no caso de uma testemunha ser vista como agente do crime.”

Ela citou o exemplo da Operação Caixa de Pandora, que conduziu: “Houve um controle muito restrito do que poderia ou não ser divulgado”.

No início de sua gestão, o procurador-geral Rodrigo Janot também estabeleceu mecanismos internos de controle de acesso a documentos. Isso não evitou ruídos internos –e cobranças externas– provocadas por iniciativas que tomou ainda candidato ao cargo.

Em 2013, ao disputar a primeira indicação, Janot inovou ao profissionalizar sua campanha eleitoral. Contratou uma assessoria externa de imprensa e relações públicas privada, o que gerou críticas de candidatos que disputavam a votação para a lista tríplice da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR)

O fato foi revelado por este Blog. Uma profissional dessa empresa [Oficina da Palavra] se apresentara como membro da equipe de Janot.

Consultado na ocasião, Janot disse que “a relação do Ministério Público com a imprensa é delicada, exige técnica, transparência e diálogo qualificado. Por isso busquei ajuda de profissionais de comunicação para tornar essa relação a mais transparente e tranquila possível, seguindo os padrões de relacionamento entre fontes e jornalistas. Por isso, contratei o trabalho porque considero obrigatório que essa relação seja profissionalizada”.

A empresa acompanhou a gestão de Janot na PGR.

No dia 6 de março de 2015, servidores da área de comunicação social do Ministério Público Federal protocolaram uma “Carta ao procurador-geral da República“, revelando “inquietação com os atuais rumos e resultados da comunicação feita pelo MPF”.

Na carta, os signatários revelam que, anteriormente, haviam manifestado a Janot “preocupação com o cenário que se projetava com a contratação da Oficina da Palavra”.

“Vemo-nos na inconcebível situação de saber via imprensa informações acerca das quais deveríamos ter ao menos o acesso necessário para bem desenvolver nossas atribuições. Compreendemos que alguns pontos requerem sigilo, mas a maneira como a situação está sendo conduzida tem-nos fadado ao desnorteamento”.

“A primeira grande tarefa do CCI (Centro de Comunicação Integrada) deveria ter sido a definição de estratégia de comunicação para a Lava Jato e, em seguida, o consequente planejamento, a ser apresentado e implementado por todos os servidores da comunicação do MPF, o que não ocorreu”.

“É perceptível e nos causa perplexidade o descontrole sobre as informações decorrentes da Operação Lava Jato, que redundaram em vazamentos, e, segundo a imprensa, colocam em dúvida a legitimidade da atuação institucional e dão margem a questionamentos acerca do tratamento diferenciado que se tem concedido a determinadas empresas de comunicação”.

Consultada na ocasião, a assessoria de Janot alegou se tratar de uma reação corporativista dos servidores. A empresa não se manifestou.

Indicado para o segundo mandato, Janot foi questionado –durante a sabatina no Senado– pelo senador Fernando Collor (PTC) sobre a contratação, sem licitação, da empresa Oficina da Palavra para assessorar a Procuradoria-Geral da República.

Collor pediu explicações sobre a indicação de Raul Pilati Rodrigues, ligado à empresa, para o cargo de secretário de comunicação do Ministério Público Federal.

Janot argumentou que o Tribunal de Contas da União não constatou nenhuma ilegalidade no processo de contratação da empresa. Sobre a indicação de Pilati, disse que ele foi nomeado para a chefia da comunicação em razão de seu currículo.

“A assessoria de comunicação foi prestada por um profissional [Pilati] de brilhante currículo e que se ausentou em junho por deliberação própria. Se fosse por mim, permaneceria lá”, afirmou o procurador-geral.

Em relação às acusações de vazamentos de delações premiadas, Janot disse que foi uma “especulação”, por parte da imprensa, estimulada por políticos que seriam investigados pela Lava Jato.

Uma ideia sobre “Raquel Dodge pretende inibir vazamentos

  1. Zé Mané

    O Engavetador Geral da República ainda não saiu mas já é tratado como ex, corre sério risco de também virar réu, coisa não muito difícil de acontecer, a final de contas os cara também exorbitou em muito das suas atribuições, aí pode pagar muito caro pelos “exageros” cometidos. Bem diz o ditado, nada como um dia depois do outro.

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