ROGÉRIO DISTÉFANO
Porto Seguro
“Não há lugar mais seguro que o Brasil”. Palavras de Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF investigado pelo FBI. Seu sucessor imediato na CBF, José Maria Marín, está preso nos EUA, processado por fraudes na FIFA.
O sucessor seguinte não sai do Brasil pelo mesmo risco. Teixeira e o sogro e iniciador, João Havelange, fizeram acordo com o ministério público da Suíça e pagaram multa, sob sigilo de justiça, por negócios mal explicados na FIFA.
Teixeira está em tratativas de acordo com a justiça dos EUA. Não há mesmo lugar mais seguro que o Brasil. Para os descendentes dos caras que desembarcaram com Cabral, o Pedro Álvares. Onde? Em Porto Seguro.
Trancou geral
A PF suspendeu a emissão de passaportes. Falta de dinheiro para a gráfica. Melhor assim, ninguém foge do Brasil. Nem os inocentes, nem os culpados.
Xô, satanás
Os cariocas elegeram o bispo Marcelo Crivella seu prefeito. Ele disse que não ia mexer no Carnaval, ou seja, dar dinheiro para a festa. Agora o bispo impichou o prefeito e diz que o dinheiro irá para as escolas e as crianças. Um baque na venda de silicone, depiladores, camisinhas e cerveja. Certo o prefeito, enquanto bispo; certo o bispo, enquanto prefeito. Carnaval pode ser festa universal, mas não é do reino de Deus.
A grana de Adriana
Adriana Ancelmo, mulher do ex-governador Sérgio Cabral, pede a liberação de R$ 11 milhões bloqueados pelo juiz Sérgio Moro. Argumento linear, irrespondível: foi absolvida na Lava Jato, logo o dinheiro está limpo e legítimo. O dinheiro dela lavou, está novo e limpo.
Discordar quem há de? O casal vivia a união estável de joias e festas, não de falcatruas. E dona Adriana era advogada, seu dinheiro ganho na profissão, excelente clientela, os empreiteiros que trabalhavam para o governo do marido.
Tadinho
Aécio Neves pediu autorização ao STF para falar com a irmã Andrea, que está em prisão domiciliar. Jogada para condoer corações inocentes e atiçar demagogos impenitentes. Quem garante que ele não fala com ela todo dia?
Teu dia chegará
Renan Calheiros, poderoso e palavroso, faz o diagnóstico: o erro de Michel Temer foi achar que podia governar “influenciado por um presidiário de Curitiba”. Ou seja, Temer recusou a influência dos presidiários de Brasília, os atuais e os futuros. Renan dá uma no cunha e outra no marido da fofura.
Peripaque ético
O senador João Alberto (PMDB/MA) baixou hospital na terça-feira última. Peripaque cardíaco. João Alberto é presidente da comissão de ética do Senado e mandou arquivar o pedido de cassação de Aécio Neves (PSDB/MG). A ética tem razões que o coração desconhece.
Primeirão
Michel Temer é o primeiro presidente a ser processado criminalmente no exercício do mandato. Diga-se em seu favor que não é nem será o primeiro presidente a cometer crime no exercício do mandato. Pode ser que nem tenha cometido crime. Em tese, tem que ressalvar, porque pode dar cadeia para quem escreve.
A futura procuradora geral da República, Raquel Dodge, tem na ponta da língua o argumento para arquivar a denúncia: o que se atribui a Temer é um costume constitucional. Ela não falava de propina ou dinheiro na mala. Falava da nomeação do primeiro nome na lista para procurador geral. Acontece que no Brasil palpite infeliz faz jurisprudência.
O povo se acostuma com o costume e o costume torna-se lei. Se é assim na Inglaterra, por que não no Brasil? Uma pequena, insignificante diferença: lá começou com os barões contra o rei João Sem Terra – xará de apelido e nome do avô do ex-deputado Rodrigo Rocha Loures – e depois passou para a constituição e para o povo. No Brasil, o costume só vale para os barões.