de Ticiana Vasconcelos Silva
Todos dormindo no caminho de um sonho impossível a nos conduzir pelas matas de cachoeira, borboletas e incontáveis girassóis.
Tranquilamente conduzo meus anseios, sem ter medo do que venha acontecer.
Parece-me que é caro viver, mas paga-se barato para não morrer.
Escutei um dia alguém dizer que a vida é quase um martírio, um sacrifício a se resolver, mas os problemas da alma a gente tem que esconder para não perder a parada do trem que nos leva para o não querer. Não querer é poder, como diria Fernando Pessoa com suas linhas desassossegadas que contornaram a pedra no meio do caminho.
Que lindo abençoar e amar como se não houvesse amanhã, pois não há. Nunca haverá e este é o fim de um começo eterno.
Saí em busca da liberdade, mas me prenderam para que eu dormisse sem sonhar.
Então, vou encarar de frente a angústia e os medos conscientes a me fazer tremer o frio que condena o meu escuro.
Fui obrigada a declarar guerra, mas a paz ordenou que eu sumisse sem deixar vestígios – e eu estou aqui. Agora. E o que faço? Nada, pois o vazio traz o arrepio na alma sem desalojar os segredos.
Danço, canto, pinto, bordo, cozinho, sorrio, pois a lei é a virtude dos imortais.
Morrerei com dor, mas com a consciência em cima da virtude que caiu. Mas não morri. Estou aqui para escrever. Sempre. A história sem fim.
Não me vinguei, pois vingo na mata colorida de meus pensamentos vivos, sólidos, complexos e sem destino, pois viajar é conhecer os lampejos do raio estelar de Zeus.
Adeus. Volto e não volto, como sempre fiz no caminho.
Para não ignorar a minha ignorância que dança em uma valsa de formatura. A de todos nós.
Me graduei em doenças e curas, me desamarrei de minhas armaduras para me defender. E não me contenho nesse espaço imenso que é viver. Entendi sim e vim porque mereço.
Tenho uma escola de datiliografia,muitas namoradas,sou bonito,sou um craque jogando bola,fui um bom ala no basquete.
Sou um cidadão maduro ,fechei a escola por causa do avanço da informatica,continuo na mesma sala,cuido dos meus dois folhos fora do casamento e mais dois do meu casamento.
Sou um sexagenário,ainda tento jogar bola pois sou teimosos,continuo na mesma sala,apesar de raras ainda tenho namoradas,me sinto um velho bonito e teimoso.
E a vida passou e nem percebi,corri atrás de namoradas,trabalhei 10 horas por dia,não sai do Pais,nunca fiz um cruzeiro e meu território foi esse de 100 km de raio.
Valeu a pena viver,sim valeu a pena por aquilo que fiz e por que não consegui fazer e caminho pelas ruas da cidade que nasci e cresci e não me preocupei para conhecer outros lugares até por que eu tinha que cuidar dos meus filhos e esposa.
Me sento no banco da conha que foi meu companheiro nos últimos 60 anos e penso nos meus filhos que estão pelo mundo,minha esposa seguiu os passos deles e me mandam todos os dias mensagens de como estão e eu sozinho nessas noites frias mas de céu estrelado fico me perguntando o que eu não fiz.