por Raquel Landim
Brasília virou um teatro de faz de conta e nós somos os espectadores dessa farsa. Teoricamente, as instituições continuam funcionando, mas, na prática, a verdade vem sendo tão distorcida que o enredo caminha para um desfecho perigoso.
Difícil saber onde tudo isso começou, mas talvez tenha sido no estelionato eleitoral de 2014, quando Dilma Rousseff e Michel Temer se elegeram prometendo algo impossível de cumprir.
No primeiro mandato, Dilma tinha cometido tantos erros na condução da economia que o Estado estava quebrado e era questão de pouco tempo até o desemprego chegar. Hoje, temos 14,2 milhões de desempregados.
A farsa continuou no impeachment da presidente. O rito foi cumprido a risca, mas o Congresso fez de conta que estava cassando o mandato por conta das “pedaladas fiscais”, enquanto a verdade era bem distinta. Dilma caiu porque jogou o país numa profunda recessão e porque os políticos estavam desesperados para “controlar” a Lava Jato.
Na esperança de ter uma travessia relativamente tranquila até 2018, a elite brasileira apoiou o governo Temer, desconsiderando todas as suspeitas que pairavam sobre ele. Com a delação de Joesley Batista e a incrível gravação da conversa com o mandatário da república na calada da noite, tornou-se impossível continuar fazendo de conta.
As desculpas de Temer sobre sua relação com Joesley —”não acreditei no que dizia o empresário falastrão”, “esqueci de colocar o compromisso na agenda”, “não sabia de quem era o jato particular que usei”— são totalmente absurdas. Mas o Planalto as repete como se fossem verdade.
O julgamento da chapa Dilma-Temer no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) é apenas o ato mais recente dessa farsa. Até a publicação dessa coluna, os juízes faziam malabarismos para ignorar provas abundantes de caixa 2.
O ministro Gilmar Mendes não tem qualquer decoro em mudar sua convicções conforme o governo de turno. Outros dois ministros da corte foram indicados pelo próprio Temer para julgá-lo —ou seria melhor dizer para absolvê-lo?
Na ânsia de conquistar e se manter no poder, os grupos políticos —o que inclui Executivo, Legislativo e Judiciário— seguem fazendo de conta que esse é um país sério, distorcendo a verdade e as próprias instituições que dizem representar, sem se importar com o perigo que sua conduta representa para a democracia.