8:24PENSANDO BEM…

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ROGÉRIO DISTÉFANO

Congresso do PT para escolha da direção nacional. Painéis com as fotos dos mártires José Dirceu e José Vaccari Neto. Celso Daniel, não, está fora da história reescrita do partido, o desacontecer que evoca remota prática estalinista. Lula pontifica, decide, faz a presidência em nome da unidade partidária, sagra e unta a senadora Gleisi Hoffmann com seu óleo sagrado. Não entenderam nada, vivem a realidade da fantasia.

Depois da corrupção o que de pior acontece no Brasil é a linguagem que veio junto e por causa dela. A linguagem dos advogados sempre com os complementos que só por si fazem suspeita a afirmação, algo como admissão inconsciente da culpa. A última, da presidência Temer contra Rodrigo Janot: o procurador geral age com “nítido viés político”.

Tudo tem que ser atenuado pelo biombo do eufemismo. Nítido viés político significa antagonismo, mais nada. Pode-se economizar o nítido, que não faz falta. Viés entrou na moda, desta vez respeitado o equivalente nacional do bias, que os gringos do norte usam bastante. Político, bobagem da grossa. Pedir inquérito contra o presidente é por si só ação política.

E quando o presidente pratica desvio de finalidade para atribuir estado de ministro para Wellington Moreira Franco, usando de medida provisória, agora revigorada como se define isso? Nítido viés. E pode-se pincelar um político, como o molho da picanha. Aqui merece, de nós afrontados pelo descaramento do governo, um complemento, imoral, ou antiético, ao atribuir foro privilegiado ao ministro já apelidado – por que será? – de ‘gato angorá’?

Esses romanos são loucos. A exclamação de Asterix e Obelix, os dois heróis gauleses, quando lutavam contra o exército romano nos quadrinhos de Goscinny-Uderzo. Loucos, porque os romanos faziam coisas incompreensíveis, irracionais, absurdas, como conquistadores na Gália ocupada. Os bárbaros gauleses, ainda que bárbaros, não conseguiam atinar com o sentido do comportamento de seus inimigos.

Talvez só Célio Heitor Guimarães, chapa do blog e conhecedor de quadrinhos, me dê razão ao comparar os políticos brasileiros aos romanos. Sinto a mesma perplexidade de Asterix e Obelix com a irracionalidade, o absurdo, a inconsequência, a temeridade de nossos homens públicos, mesmo diante da previsibilidade do risco, da percepção da desconfiança que merecem da sociedade. E ainda assim fazem loucuras. Como os romanos na Gália.

Vejam as evidências, a começar pela enturage de Michel Temer, o próprio incluído. Depois de mensalão e petrolão, tretas que mancham o PMDB até a alma, continua-se a aprontar. Nem me delongo sobre o caso Friboi, da vaca que atolou o presidente e seu factótum, o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures, agora preso por ordem do até há pouco timorato e prudente STF. Era o caso de se dar uma folga na mão no jarro até 2018.

Meu limite são quatro parágrafos neste modo crônica, porque não cabe o resto, limitador do comentário das sujeiras mais recentes. Fiquemos em duas. Uma, a mexida no foro privilegiado em projeto do Senado para se antecipar a jurisprudência que o STF está a produzir. Outra, na mesma linha e no mesmo Senado, a que constitui uma comissão de ética toda composta de senadores com processos por desvios de comportamento.

Uma ideia sobre “PENSANDO BEM…

  1. Célio Heitor Guimarães

    E isso aí, meu caríssimo Rogério. Só que os políticos brasileiros são muito mais “jaguaras” – como dizia um amigo meu – do que os pobres romanos loucos de Asterix. Menires na moleira neles!

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