por Bernardo Mello Franco
Em conversa monitorada pela Lava Jato, o senador Aécio Neves e o empresário Joesley Batista manifestaram um desejo comum: derrubar o diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello. “Tem que tirar esse cara”, disse o dono da JBS. “Tem que tirar esse cara”, concordou o ex-presidenciável tucano.
Ao assumir o Ministério da Justiça e da Segurança Pública, o doutor Torquato Jardim deu esperanças aos investigados. Ele disse que a operação “não depende de pessoas” e que o comando da PF ainda será avaliado. Quando uma repórter perguntou se o ministro descartava ou não a demissão de Daiello, desconversou. “Não cabe essa resposta. Eu também estou sob avaliação”, afirmou.
Se Torquato seguir a linha de sua primeira entrevista, o país pode esperar uma gestão rica em polêmicas. Instado a opinar sobre o foro privilegiado, ele sugeriu que os ministros do STF não têm experiência para lidar com ações penais: “Dos 11, [só] o ministro Fux foi juiz de primeira instância. É a primeira vez que estão tratando de um processo criminal”.
Questionado se tentará influenciar o julgamento da chapa Dilma-Temer, o ministro deu outra declaração curiosa: “Se eu tivesse toda essa influência no TSE e quisesse praticar algum ato nas sombras, eu continuaria no Ministério da Transparência”.
Pouco depois, ele indicou que está disposto a comprar brigas no cargo. “Se eu não gostasse de conflito, seria pescador na Amazônia”, disse.
Diante das câmeras, Torquato revelou um temperamento imodesto. Apresentou-se como um leitor voraz da Constituição, disse que “viu nascer” alguns ministros do TSE e, ao citar Nelson Rodrigues, emendou que “só jornalistas antigos” saberiam de quem ele estava falando.
O ministro só mudou o tom ao ouvir uma pergunta o sobre seu preparo para formular políticas de combate à violência, uma das principais atribuições da pasta. “A minha experiência com segurança pública foi ter duas tias e eu próprio assaltados”, contou.
*Publicado na Folha de S.Paulo