Estava sentado com as costas e não queria ouvir. Bocejava. Os olhos semicerrados. Havia mais gente na sala e a maioria prestava atenção nas histórias que eu ia contando, emendando, do jeito que vinham. Sempre disse que, nestes momentos, em qualquer lugar, baixa o santo. Traduzo em palavras mais ou menos o que passei. Mas aquele menino não queria ouvir. Até que eu reparei bem no rosto dele e vi o bigodinho fininho colado no limite do lábio superior. Pensei em Cantinflas, mas perguntei o time que torcia. Timão, respondeu. Timão é o meu, mas sabia que falava daquele do Parque São Jorge. Lembrei do Cabeção, goleiro do tempo em que meu interlocutor nem pensava em nascer. Ele gostou. Aí começou a ouvir como os outros. Perguntei do bigodinho. Ele mesmo fez. Revelou que era barbeiro, que desenhava na cabeça dos fregueses. Mostrou fotos no celular. Arte. Falei da felicidade de quem tem um talento, um dom. Os olhos dele se abriram um pouco. O que precisamos mais? Apenas desenvolver e saber que a felicidade está aí. Perto – e dentro. Ele sorriu e me abraçou antes de ir embora.