16:59Ação revolucionária

por Ruy Castro

Um dos grandes momentos do protesto da última sexta-feira (28) foi a batalha entre um grupo de manifestantes e uma loja de móveis da avenida Rio Branco. Começou quando, na esteira dos gritos contra o desmonte da Previdência que pretende reduzir o povo brasileiro a um exército de miseráveis, um grupo se desgarrou e se viu diante da dita loja. Ora, todos sabem que, assim como os bancos, nada simboliza mais o capitalismo desalmado, cruel e assassino do que uma loja de móveis. A massa, portanto, partiu para o ataque.

As portas de vidro não foram obstáculo para os militantes da causa que busca salvaguardar os direitos dos trabalhadores espoliados pelo governo ilegítimo do presidente golpista Michel Temer. Em poucos minutos, sob paus e pedras arremessados com precisão revolucionária, elas foram ao chão, e os companheiros e companheiras entraram para mostrar ao governo e a seus lacaios que eles pertencem à lata de lixo da história.

O que se viu, então, foi previsível: os móveis, apavorados, tentando escapar da ação dos movimentos de resistência a essa política que condena a atual e as futuras gerações a uma vida laboral sem direitos, sem justiça e sem respeito.

Acovardadas, as cadeiras corriam para debaixo das mesas. Outras tentavam se proteger debaixo das camas, e estas batiam desesperadas à porta dos armários a fim de se esconder. Em vão. As cadeiras foram atiradas contra os espelhos, as mesas tiveram suas pernas arrancadas e transformadas em porretes, e estes reduziram os armários a esqueletos. As cômodas, muito gordas para se locomover, eram facilmente viradas. Uma cristaleira foi acuada no fundo do corredor e convertida em cacos. Os móveis de cozinha foram poupados, mas não escaparam de ser confiscados e levados dali.

Lá fora, oito ônibus eram pacificamente incendiados.

*Publicado na Folha de S.Paulo

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