15:38PENSANDO BEM

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ROGÉRIO DISTÉFANO

Na falta de assunto, escrevo sobre o doutor César Kubiak, meu médico. Ele é mais interessante que a maioria dos assuntos que pululam por aí. Repito o que digo e redigo dele: lembra o doutor Joseph Bell (na foto), professor da Universidade de Edinburgo, onde se formou o outro médico, famoso como escritor, Arthur Conan Doyle. O personagem de Doyle, Sherlock Holmes, foi inspirado no professor Bell e sua arte do diagnóstico. Tamanha a admiração, que Doyle introduziu um médico, o doutor Watson, de companheiro do detetive Holmes. Watson, quero crer, era inspirado no próprio Doyle, que nunca foi grande médico.

Nas consultas Kubiak faz lembrar os raciocínios de Holmes. Sem exagero, claro, nada daquilo de olhar para o paciente desconhecido e dizer “você nasceu em Prudentópolis, seu pai fabricava cachaça e sua mãe morreu jovem”. E em seguida desfilar os elementos exteriores que confirmam a conclusão. Holmes é ficção, Kubiak é realidade – que se não rende romance policial rende esta crônica. Primeiro, porque ele situa nossos sintomas no grande quadro da mecânica dos sistemas orgânicos. Lembra um professor de autoescola passando noções do funcionamento do automóvel ao alunado feminino.

Segundo, tem o Kubiak erudito didático da medicina. Clínico geral, espécie em extinção diante da multiplicação exponencial de especialistas que só veem o detalhe do corpo enquanto o resto se escangalha apesar ou por causa do mal do momento. Como seu mentor Lysandro Santos Lima, leva o fichário dos pacientes para casa, para refletir sobre os casos. Se Conan Doyle levava Joseph Bell no coração, Kubiak vai além com Lysandro e tem a foto deste, bem grande, na sala de exames. Até hoje fico meio constrangido com o olhar do bom velhinho sobre meus achaques. A erudição médica de nosso doutor não raro traz surpresas.

Nossa última consulta. Tudo bem, “dentro dos encantos do envelhecimento”. Recomendou que mantivesse o ritmo de vida. ‘Tem esse problema de sensibilidade nos dentes ao frio e ao calor’, minha única queixa. “Também tive disso. Encontrei a resposta num livro francês do século XIX”, falou o garimpeiro de sebos. “É a dor do membro perdido: quem perde uma perna continua a senti-la. Pode ser dor do siso extraído ou tratamento de canal”. Nada mais disse, não entra na seara do dentista, de quem também é cliente. Não resisti à última pergunta: ‘E quando o membro não está perdido, apenas não se encontra?’ O doutor sorriu e me despachou.

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