Os dois capoeiristas colocaram as navalhas abertas entres os dedos dos pés. Gingaram ao som do atabaque e do berimbau. Voaram com as pernas cortando o ar – e as lâminas brilhantes passando perto dos corpos. Não houve cortes, não se viu sangue. Eram mestres e terminaram sorrindo a exibição naquele espaço exíguo de um quintal de sobrado. Logo depois… aí sim, o coração sangrou, a alma apertou. Era a voz de um nordestino cantando os versos que batiam aqui dentro e traduziam a angústia de um adolescente querendo encontrar um caminho. Elas ficaram para sempre – e ajudam até hoje na compreensão do que é a vida. Belchior.
Que lindo isso! Belchior, para mim, também tinha esse mesmo “efeito”: traduzir angústia.