A luz do farol acertou a traseira do ônibus e alguma coisa aconteceu. Alguém no banco de trás me olhou e eu não parei de seguir o que alguns chamam de coletivo. Não só isso. Eu podia ouvir o coração de todos os passageiros, a respiração, o que conversavam, o que pensavam. Não sabia mais o caminho de casa. Seguia aquela enorme traseira amarela e o olhar que vinha através do vidro sujo me furava. Fiquei sabendo da vida de todos – a maioria pobres, cansados de um dia de trabalho. Poucos estavam felizes. Alguns bem tristes, com problemas financeiros, de relacionamento, de sexo. Um casal de jovem, não, eles, apaixonados, viam tudo colorido e coberto de doce. Não havia como sair daquilo. À medida que as pessoas iam descendo, meu pensamento os acompanhava até suas casas – e isso sem desligar dos que ainda permaneciam no veículo. Foi assim até o ponto final. Quando todos desceram, eu apaguei. Tempos depois alguém me cutucou. Era o motorista. Perguntou se eu estava bem. Eu disse que sim. Eu quis saber que lugar era aquele, meio estranho, escuro, ar pesado. Ele disse que era a Vila Esperança.
Os ipês não florescem em abril,mas consegui um buque de flores de guapes .
Silvestre, você sem escrever continua a sumidade de sempre: suma!!!