Do caderno Viver Bem, da Gazeta do Povo
… Na última década, o número de suicídios aumentou 40% entre crianças e adolescentes de 10 a 14 anos. Já entre os jovens de 15 a 19 anos o crescimento foi de 33%. Os números estão no Mapa da Violência 2014 – última edição que aborda de forma mais completa os jovens. Os dados levam em consideração o crescimento da população brasileira menor de 20 anos no período.
O relatório destaca que a taxa de suicídios de adolescentes vem crescendo à sombra dos dois gigantes da mortalidade violenta: a dos acidentes de trânsito e a dos homicídios, com taxas entre quatro e seis vezes maiores. Porém, em pouco mais de 30 anos, os suicídios passaram a ocupar uma fatia maior entre as causas externas de mortalidade entre crianças e jovens. A participação saiu de 0,2% em 1980 para 1% em 2013.
Como os pais podem ajudar essa geração que joga com a morte
Como lidar com a geração que brinca com a morte e busca no suicídio uma fuga para seus sofrimentos
“Ontem à tarde eu tentei suicídio ingerindo um vidro de remédio. Fazia parte do plano tomar junto com a minha caixa de antidepressivo. Feliz ou infelizmente, meus comprimidos tinham acabado, e no calor do momento tomei só o vidro. Estou na UTI, morrendo de vergonha porque não parei para pensar nas pessoas que me cercam. Muitos já vieram me visitar e minha escola parou o dia para orar por mim (tenho 16). Não sei como vou encarar todo mundo na segunda-feira.”
Este é o depoimento de um jovem de 16 anos, morador de São Bernardo do Campo, no grande ABC paulista, postado em um tópico do site Reddit, que funciona como fórum online. Abaixo do relato, há centenas de mensagens de apoio. Outras, em primeira pessoa, narram tentativas de suicídio. A maioria é de adolescentes. O relato se une a uma febre de jogos online, séries e filmes atuais que discorrem sobre o tema, seja de forma informativa, curiosa, ou mesmo incentivadora de uma comportamento suicida. É perturbador.
Na última década, o número de suicídios aumentou 40% entre crianças e adolescentes de 10 a 14 anos. Já entre os jovens de 15 a 19 anos o crescimento foi de 33%. Os números estão no Mapa da Violência 2014 – última edição que aborda de forma mais completa os jovens. Os dados levam em consideração o crescimento da população brasileira menor de 20 anos no período.
O relatório destaca que a taxa de suicídios de adolescentes vem crescendo à sombra dos dois gigantes da mortalidade violenta: a dos acidentes de trânsito e a dos homicídios, com taxas entre quatro e seis vezes maiores. Porém, em pouco mais de 30 anos, os suicídios passaram a ocupar uma fatia maior entre as causas externas de mortalidade entre crianças e jovens. A participação saiu de 0,2% em 1980 para 1% em 2013.
Apesar de alarmante, o assunto ainda é tabu. Seja na escola ou em casa, o que leva um jovem a cometer suicídio e como preveni-lo dificilmente é tema de conversas entre os adultos e os mais novos. O vácuo faz com que os sinais de alerta emitidos pelos filhos passem despercebidos pela família. Isolamento, agressividade, distúrbios alimentares, alterações de sono, problemas na escola são vistos como sintomas típicos da adolescência e, muitas vezes, relativizados pelos pais.
Este distanciamento se torna mais grave na medida em que o grupo onde está inserido passa a ter mais importância na vida do adolescente. “O jovem tende a ficar vulnerável porque dá mais valor à avaliação externa dos seus pares do que a das pessoas que sempre fizeram parte da vida dele, como a família”, afirma o médico psiquiatra Jair Segal, chefe da equipe de saúde mental do Hospital de Pronto Socorro, de Porto Alegre (RS).
Internet: salvação ou vilã?
A internet e as redes sociais têm papeis paradoxais na questão de comportamento suicida dos adolescentes. Por um lado, elas podem servir como fonte de induções destrutivas, como no caso do paulista Gustavo Riveiros Detter, de 13 anos, que morreu após ser desafiado pelos participantes de um jogo online a se enforcar, em outubro do ano passado. Ou de outras práticas criminosas como o jogo da baleia azul, que induz e coage crianças e jovens em redes sociais a cumprirem uma série de “desafios” que, por fim, levam à morte.
Por outro lado, é também na internet que jovens podem buscar apoio dos voluntários do Centro de Valorização da Vida (CVV), que atendem hoje, além do tradicional telefone, também por e-mail, chat e Skype. Isso sem falar em outras vozes, de amigos ou até desconhecidos, que oferecem ajuda ou palavras positivas em grupos nas redes sociais.
Depois da estreia da série 13 Reasons Why, produto da Netflix que trata de bullying e suicídio em uma escola americana, a procura pelo atendimento do CVV aumentou em cerca de seis vezes. Segundo o CVV, a maioria das pessoas que está buscando atendimento é jovem e identifica com a dor da personagem principal da série.
“Apesar de não fazermos controles fechados, houve um aumento significativo na procura por adolescentes nos últimos dias. Tanto em decorrência da série, como por causa do jogo baleia azul. Isso tem influenciado”, afirma Rael Mello, voluntário e porta-voz do CVV em Curitiba.
Como identificar e o que fazer?
A primeira dica para os pais do psiquiatra Jair Segal, que também é pesquisador na área de comportamento suicida, é: conversem com seus filhos quando perceberem que algo não está bem ou houve uma mudança de comportamento. “Ser verdadeiro e não ter medo de abordar o adolescente de forma aberta e direta é o mais importante. Dizer que percebeu uma mudança, querer saber o que está acontecendo e que pode ajudar”, diz.
É preciso respeitar o espaço do adolescente, mas se mantendo atento daquilo que acontece com ele. “Se houver a percepção que algo está errado é o momento de se aproximar. O jovem é impulsivo, disruptivo e pode agir de forma dramática a algo simples. Isso pode ser evitado”, afirma Segal.
Sinais de alerta:
– Isolamento
– Irritabilidade
– Piora no rendimento escolar
– Uso de álcool e drogas
– Outra mudança considerável de comportamento
Como agir:
– Não tenha medo de falar, perguntar e mostrar que se importa
– Seja franco e direto
– Conversar gera alívio, mesmo que o jovem recuse num primeiro momento, insista
– Se avaliar que é necessário, busque ajuda especializada de um psicólogo ou psiquiatra
*Oferecer ajuda faz toda a diferença para evitar um desfecho trágico