por Célio Heitor Guimarães
Você pode não ser e certamente não é, prezado leitor. Eu também não tive ainda o privilégio de sentir essa emoção. Muito provavelmente, por pura falta de competência, porque por falta de oportunidade não foi. Mas que estamos cercados de corruptos por todos os lados, não há a menor dúvida.
É possível que tenha sido sempre assim. Mas aí outra certeza se impõe: com a chegada do PT/PMDB ao poder e a ascensão de Lula da Silva ao Palácio do Planalto, os corruptos perderam de vez a compostura e a corrupção foi institucionalizada no país. As mais recentes listas do Procurador-Geral da República divulgadas e cujas aberturas de inquéritos foram autorizadas pelo Ministro Edson Fachin, do STF, são de arrepiar e causar asco. Cinco ex-presidentes da República, oito ministros do atual governo federal, dois ex-ministros da Fazenda, os presidentes do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, vinte e quatro senadores, meia centena de deputados federais, nove governadores de Estado, ex-governadores, prefeitos e ex-prefeitos, presidentes de partidos, marqueteiros e muita gente, inclusive familiares dessa turma toda… Todo mundo denunciado – e isto só porque ainda não se chegou aos demais.
Quer dizer: o Brasil situa-se entre os países mais corruptos do mundo. E a conclusão é da ONG Transparência Internacional, cuja avaliação, de âmbito mundial e pelo processo de votação, empurrou nosso país, em janeiro deste ano, para o 79º lugar no ranking da decência, empatado com a Biolorrússia.
Esse fato fez-me lembrar de um episódio vivido pelo jornalista curitibano Altair Carlos Pimpão, que marcou presença no rádio e jornal catarinenses, e que foi narrado por ele próprio em “Crônicas de Blumenau” (Letra Viva, edição de 1996).
Conta o nosso Pimpão que, logo que chegou ao Vale do Itajaí, na flor de seus 19 anos, “disposto a revolucionar e consertar o mundo”, soube que estava havendo mutreta no serviço de extração de areia do rio Itajaí-Açu, levado a efeito pela própria municipalidade de Blumenau. Para cada dois caminhões de areia que eram retirados, marcava-se apenas um. Isto é, a Prefeitura recebia o preço pago por um caminhão de areia, enquanto o dinheiro do outro era embolsado pelos próprios funcionários municipais que desenvolviam aquela atividade.
Pimpão não se conteve. Escreveu um violento comentário e mandou-o para o ar, pelas ondas da Rádio Difusora, em pleno horário nobre do rádio da época, entre as 12 e 13 horas.
Quando retornou do almoço, disseram-lhe que o prefeito estava à sua procura. Orgulhoso, estufou o peito e correu ao Paço Municipal. Ali foi recebido com amabilidade, ganhou um cafezinho e os cumprimentos pessoais do prefeito.
O alcaide, Frederico Guilherme Busch Jr., era um sujeito tão experimentado e respeitado quanto pragmático. Afirmou que Pimpão tinha toda a razão, lamentou o fato denunciado e indagou o que o jovem repórter sugeria que se fizesse para acabar com o furto da areia.
— Ora, prefeito! É só colocar lá um fiscal! – respondeu de bate-pronto o nosso justiceiro, com todo o entusiasmo juvenil.
Pois o prefeito Busch Jr., que trazia na boca vistosa piteira, soltou uma demorada baforada e ofereceu, ali mesmo, uma inesquecível lição político-administrativa ao paranaense Altair Pimpão.
— Só que se eu colocar lá um fiscal, aí vão tirar três caminhões de areia e marcar apenas um – replicou, sem dar condições para tréplica.
O retrato é do final da década de 1950 De lá para cá, as coisas evoluíram, tornaram-se mais sofisticadas e diversificaram-se. Já não se furta mais meros punhados de areia de rio e sim milhões de reais em recursos públicos, que vão engrossar contas nos bancos suíços, caribenhos e norte-americanos. E os agentes da gatunagem não são mais simples funcionários municipais, mas estreladas figuras da vida pública nacional, abrigadas no Congresso Nacional, em palácios governamentais, dentro das prefeituras municipais, assembleias legislativas, debaixo de uma toga ou com assento no próprio gabinete presidencial.
É triste, estupefato leitor, mas não dá para contestar. Estamos no pódio da patifaria e este troféu, desgraçadamente, é nosso!
Agora, desculpe-me, mas preciso ir ao sanitário expelir pela boca o que ainda me resta no estômago.
P.S. – Essa gentalha toda, incluindo, sobretudo, a quadrilheira Odebrecht, deveria ser expulsa, sem mais delonga, do território nacional brasileiro, ficando proibida de aqui pisar pelos próximos 50 anos.