de Fernando Diniz
Ocorpo, coberto por cicatrizes, testemunha que aquela não é a primeira vez. Desacordada, baixa no pronto-socorro trazida por dois soldados da Polícia Militar.
Parece um andrajo, toda suja, roupa rasgada e cheia de feridas. Um atendente a reconhece. “É a louquinha que fica na porta dos botecos, atrás do noivo que morreu”, diz aos colegas, um tanto assustados com o tamanho dos hematomas.
Após limpá-la, ministrar-lhe remédios e cobrir as feridas, é hora de dar alta. “Deixa ela por aqui mais um pouquinho”, sentencia o médico, recém-formado, às enfermeiras, uma bem nova e a outra mais velha, enquanto mede o pulso da paciente, que dorme intranquila, em um sono de barbitúricos. Pede exames urgentes, de sangue, urina e fezes. Enquanto não chegarem ela vai ficar internada, sob os estritos cuidados dele.
“Que bobagem, daqui uns dias ela aparece de novo”, a enfermeira mais velha fala rangendo os dentes, com receio de ter sido ouvida, logo após a saída do médico. “Que maravilhoso!”, suspira a enfermeirinha, enamorada pelo gesto do rapaz.
Ele corre para o corredor, em busca de um telefone público. Disca uma vez, duas; é traído pelo nervosismo. Chora ao contar para a mãe que acredita ter encontrado uma doadora compatível com a sua irmãzinha, que não levanta mais da cama vítima de uma doença fatal. No coração.
O altruísmo de alguns médicos é impressionante. Já vi isso em algum filme, “Medidas Extremas”, ” Coma” ?