22:01ZÉ DA SILVA

Alguma coisa acontece. Entrou no Bar Brahma, na esquina do Caetano Veloso, e saiu num inferninho da Boca do Lixo no cu da madrugada. Estava no palco. Em vez de uma camisa listrada, estava de bustiê e salto plataforma. Alguém colocou uma nota de cruzeiro novo em sua cintura. Automaticamente começou a dançar feito o Coisinha de Jesus. O silêncio tomou conta do local. A névoa de fumaça podia ser cortada com faca cega, como poderia escrever alguém com sonho de começar a escrever na Black Mask, a revista de porta de entrada de Raymond Chandler. Aí ele flutuou, feito milagre contado em programa de tv religioso. Todos se ajoelharam. Subiu, desceu e, ao tocar a sola dos pés, agora descalços, no piso imundo do palco, uma tampinha de refrigerante grudou perto de um calo. Não ficou incomodado. Queria apenas olhar o tipo e a marca. Só viu isso em casa, quando chegou horas depois. Era guaraná. Teve então certeza que a cidade onde nasceu é muito, muito doidona.

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