Como se fosse uma navalhada, mas para o bem. Cortou, naquele dia, o demônio de todas as horas, de todos os dias, de todos os anos. A sarjeta sempre à espera, da queda, do grande final da degradação regada a álcool. Quantos anos no arame sem proteção embaixo? Foi simples e absurdo, mas os milagres são assim. O dinheiro contado no bolso, cigarro para queimar mais o peito e chamar o caranguejo para se alojar. Pegou. Uma padaria qualquer sob o sol do meio-dia. Na saída, alguma coisa aconteceu e lhe chamou atenção. O doce protegido pelo vidro. O doce dele, o que lhe arrancou de dentro da alma a vontade. O maço de cigarro no bolso. Não havia mais dinheiro. Nem chance da devolução, da troca. Mas ele trocou. Parou ali antes de colocar os pés na calçada. A navalha da vida cortou o antes do agora. E ele continua. Agora, mais doce do que o doce na vida. Foi há muito tempo.