20:49ZÉ DA SILVA

Por que a dúvida? Por que a coincidência de dúvidas? No registro do computador de bordo animal, vulgo cérebro, está lá – e vem sempre na forma desta frase: “Nunca apanhei de pai ou mãe quando era criança”. Certeza? Talvez vontade de. Vem então o tapa, sem barulho, sem dor, sem nada, apenas uma imagem tênue onde a mão ossuda, grande e de dedos finos dele, o senhor, encostou no lado esquerdo do rosto. Ele que nunca falava ou brigava. Será que bateu mesmo por uma pirraça? Ficou assim. Depois, a mesma coisa com o filho que não sabe se apanhou e também não tem certeza se bateu no neto daquele que não batia – ou bateu apenas uma vez na vida. No mesmo computador, os registros ficaram, para sempre. O velho se foi, o filho está na descendente, o neto em pleno vigor dos trinta e poucos anos. Os três parecidos. Branquelos, compridos, observadores, olhos claros, sorrisos abertos só para os escolhidos. Apanhei? Bati? Um tapinha não dói. Mas fica.

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