por Fernando Muniz
– Essepapo de compaixão é pra boiola, tá ligado? – e solta uma risada, feliz com a conclusão, muito mais uma justificativa.
– E quem te falou disso? Alguém te perguntou alguma coisa? – o amigo, intrigado, já pensa em alguém à procura deles.
– Minha mãe.
– Ah, ela é que nem a minha. Acredita em tudo o que o pastor diz – recobra a calma.
– Verdade. Bora lá ligar o micro-ondas!
Somem por um beco entre os barracos e se embrenham na floresta, nos fundos da favela, com uma lata de óleo diesel, tocha e fósforos. Margeiam o morro através de uma picada, até o alto, naquela noite nublada, sem lua ou estrelas.
Lá em cima aproximam-se de uma pilha de pneus velhos. Encharcam os pneus com o óleo diesel e acendem a tocha; eles se mexem.
Entre os pneus um colega dos rapazes, amarrado. Ouvem um pedido de misericórdia, abafado pelo pano que enche a boca do preso. Palavra que eles nunca escutaram, por sinal.
– Hora de acabar com esse cagueta! – segundo o que comentam no morro.