Falou de flores, sim – e até tentou colocar uma na boca do cano do fuzil do soldadinho que estava tão apavorado quanto ele naqueles tempos que, diziam, eram difíceis. Pra que? Gorilas assassinos sentiram cheiro de sangue e exercitaram os músculos durante um bom tempo nos corredores das catacumbas. O máximo que sofreu foi um murro na boca que o fez quase engolir dois dentes, mas isso foi lá, no passado. Não era proibido proibir. Ele disse não e foi catar coquinho na ladeira da memória. O tempo voou, os quarteis perderam a tensão, outros assumiram o poder. Democracia iluminada! Tanto que, mais que o murro, foram anistiadas as mortes, a tortura em quem ainda acreditava na liberdade, assim, sem rótulo, sem gurus, guias, ideologias – e instalou-se a aniquilação dissimulada, consentida. Pensou nisso enquanto via amigos se cuspindo em defesa dos atuais vampiros assassinos de todos os grupos – mancomunados ou inimigos de araque. Pegou a sanfona, tirou alguns acordes na esperança de que o som entrasse em todas almas do país-continente para desencadear um pingo de revolta. Nada aconteceu. Lembrou do som de saraivadas de balas. Do cano do fuzil, dos olhos do soldado, do tempo que perdeu. Então foi dormir, para morrer mais um pouco.