por Antonio Delfim Netto
Tempos estranhos estes? Não! Tempos normais, quando vemos o homem como ele é, despido da romântica “humanidade” moral que lhe atribuímos. Um animal territorial, dotado pela evolução biológica de um terrível e perigoso instrumento — a sua inteligência. Com ela submeteu a natureza que o criou e inventou sofisticadas “teorias” para separar-se em tribos que se veem com desconfiança dentro e nos limites do “território” que ocupam e estabeleceram como “seu”! Esse sentimento é tão poderoso que, frequentemente, ele sacrifica a única coisa que efetivamente dispõe — a própria vida — para defender-se da cobiça real ou inventada de outras tribos internas ou externas.
As pesquisas antropológicas recentes acumulam, cada vez mais, evidências de que só o homem é capaz, em nome de crenças sem nenhum suporte factual, de desenvolver poderosos preconceitos para “justificar” os mais pavorosos massacres de membros da sua espécie quando os “supõem” de outras tribos.
Não há registro desse comportamento em nenhuma outra espécie que a natureza produziu. O predador é sempre a espécie que está acima da cadeia alimentar, que a consome para sobreviver e reproduzir. Há registros esporádicos de lutas entre grupos de macacos, mas que não terminaram em “macacocídeos”.
A notícia mais amena é que a história revela também uma outra faceta da “natureza” do homem. Ainda que menos frequentemente, ele dá demonstração de altruísmo. Há algumas semanas, assistimos a uma explosão universal de solidariedade da espécie em resposta ao trágico acidente que se abateu sobre a Chapecoense.
Isso coloca um problema. Como saber se tem sentido — a não ser por um desejo generoso — afirmar que, para “civilizar” os homens, bastaria liberá-los dos constrangimentos que lhes impôs o regime capitalista, uma organização econômica que aumentou exponencialmente, nos últimos 300 anos, a produtividade do seu trabalho (e o seu desejo de “quero mais”), mas gerou uma desigualdade insuportável?
Bastará eliminar o capitalismo para reduzir a agressividade e aumentar a solidariedade e o altruísmo potencialmente implícitos na natureza humana para que floresça no homem a imaginada “humanidade” que lhe atribuímos?
Tenho dúvidas. Afinal, somos, diariamente, testemunhas de que o homem é “humano”, tanto quando “mata” como quando “consola” o outro da sua espécie. As evidências antropológicas não sustentam a hipótese de que seu comportamento é a resposta à organização capitalista de produção.
A natureza do homem é um fenômeno complexo e é duvidosa a ideia de que a ciência lhe imporá a desejada “humanidade”, antes que ela produza sua própria destruição.
*Publicado na Folha de S.Paulo
Pois é,quando estamos no fim da carreira e numa encruzilhada para o lado que se vire ou tome um rumo esse sempre será em frente,jamais voltaremos e também não sabemos onde essa estrada vai ser finita.
E com o passar do tempo,para aqueles pensadores que passaram boa parte da vida preocupados com o homem,com sua ideologia ,fé e probidade chega num ponto que a gente joga a toalha e se recolhe em copas.
Sempre seremos assim até que algo nos extermine,seremos pó que vagará por ai,talvez um outro ser nos espanará do requadro de sua janela ou da proteção de sua nave.
Mesmo assim ainda existem alguns homens santos que caberiam na palma da mão de Deus,mas são tão poucos para essa grande quantidade de sub nitrato de amônia que é a maioria.